Retrospectivas e Perspectivas Divinas de Ano Novo : Os últimos dois sermões pregados pelo Príncipe dos Pregadores em vida [Publicados na revista “The Sword of the Trowel” de fevereiro de 1892]

Título original:  BREAKING THE LONG SILENCE –  Mr. Spurgeon’s last two Addresses, delivered at Menton, on New Year’s Eve, and New Year’s Morning, 1892

 

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APRESENTAÇAO E CONTEXTO

Por Armando Marcos, editor de Projeto Spurgeon

Charles Haddon Spurgeon já enfrentava durante anos, desde aproximadamente o meio da década de 1860, mas de forma mais intensa no fim dos anos 1870, constantes ataques de gota e reumatismo que o deixava longos períodos impossibilitado fisicamente de exercer suas atividades pastorais e filantrópicas. A cada fim de ano a partir do fim dos anos 70, Spurgeon passava os meses de inverno na Riviera Francesa, especificamente na cidade de Mentone, no sul da França, próximo à fronteira Italiana. Essa cidade era muito procurada por pessoas procurando reestabelecer sua saúde, e o clima ameno favorecia muito a saúde de Spurgeon.

Porém, principalmente depois da controvérsia do declínio teológico entre 1887-1888, a saúde de Spurgeon piorava cada vez mais, apresentando um agravamento de seu estado, com crises de gota e reumatismo cada vez piores, e nos últimos tempos apresentado sintomas de inflamação renal, conhecida na época como “Doença de Bright”.  Em 1890 a situação começou ficar cada vez mais fora de controle, e em 26 de abril de 1891 pela primeira vez em quarenta anos, ele foi compelido por um ataque de nervosismo a deixar o púlpito depois de entrar nele. Spurgeon conseguiu ainda pregar até a manhã de 17 de maio, quando então a doença o dominou, e apenas mais uma vez na manhã de domingo, 7 de junho, ele ficou em seu púlpito. Seu estado era tão grave que se considerou instalar um elevador no Tabernáculo Metropolitano para facilitar a locomoção do amado pastor. Milhares de pessoas oravam por sua saúde e reabilitação em todo o mundo e em todas as seções da igreja.

Apesar de sua fraqueza, ele insistiu em ir naquela semana para revisitar Stambourne em preparação para o livro de memórias da infância que estava escrevendo. Lá, sua doença reapareceu, e ele retornou a Londres. Por mais de um mês ele ficou deitado, a maior parte do tempo inconsciente, só de vez em quando livre do delírio que era uma tristeza que o acompanhavam.

Após uma breve melhora, ficou evidente que Spurgeon precisava se afastar mais ainda de seus trabalhos pastorais, e prevendo uma falta prolongada se seu púlpito, aceitou um convite do pastor presbiteriano americano A.T. Pierson para o substituir por alguns meses no Tabernáculo. Em outubro Pierson chegou em Londres, e ele partiu para o sul da França na segunda-feira, 26 de outubro, acompanhado pela Sra. Spurgeon, pela primeira vez depois de anos de doença, pelo seu irmão James Archer Spurgeon e sua esposa, seu amigo o editor Joshep Passmore, seu devotado secretário Joseph W. Harrald e mais alguns amigos. Eles chegaram ao Hotel Beau-Rivage, Mentone, sem incidentes, e lá Charles e Susannah tiveram, apesar da fragilidade de ambos, três meses de uma última lua de mel.

Na última noite do ano 1891 e no dia primeiro de janeiro de 1892, Spurgeon fez os dois discursos que você lerá, que foram posteriormente publicados sob o título “Quebrando o Longo Silêncio” no mês de fevereiro da “The Sword of the Trowel”, a revista do ministério de Spurgeon. A melhora de Spurgeon por alguns dias foi tanta que ele teve tempo de continuar a escrita de seu comentário ao evangelho de Mateus até as partes finais e selecionar sermões para um livro especial que ia ser impresso como um resumo de seu ministério, e escrever cartas para seu povo no Tabernáculo e as crianças do seu orfanato, e até mesmo mandar um telegrama para dar as condolências pela morte repentina do filho do príncipe de Gales, ocorrida dia 14 de janeiro. Nas noites de domingo, 10 e 17 de janeiro, Spurgeon queria pregar, mas por recomendação dos amigos que sentiram que Spurgeon não teria forças para pregar, ele apenas leu alguns de seus próprios escritos nos cultos organizados no hotel, e no final do segundo culto, ele anunciou o hino “As Areias do Tempo Estão Afundando” do puritano Samuel Rutherford.

Em 15 de janeiro, foi comemorado o aniversário de Susannah, e no dia 20, foi a piora final de Charles Haddon Spurgeon. Nas palavras de seu secretário Harrald: “À noite, sua mão doía tanto por causa da gota que ele foi dormir cedo; e daquela cama ele nunca se levantou. No dia seguinte, uma gota na cabeça aumentou nossa ansiedade em relação ao nosso querido paciente e, desde então até o fim, foi necessário que ele fosse atendido com amor e cuidado, dia e noite; e esse serviço foi prestado com muita alegria e boa vontade. Ninguém previu que a doença assumiria uma forma tão terrível, embora o querido doente nos assegurasse que sua cabeça doía exatamente como quando voltou de Essex no verão, e ele temia ficar tão doente quanto antes. estive em “Westwood” durante aqueles meses de ansiedade do ano passado. Foi nessa época que o Sr. Spurgeon me disse: “Meu trabalho está concluído”, e falou de vários assuntos que mostravam que ele sentia que seu fim estava se aproximando. Mesmo assim, todos nós nos apegamos à esperança de que ele seria poupado para nós e até mesmo autorizado a pregar novamente; mas na manhã de terça-feira, 26 de janeiro, o Dr. FitzHenry foi obrigado a relatar a condição de seu paciente como “grave”.

Quando tudo terminou, cerca de uma hora antes da meia-noite do dia do Senhor, 31 de janeiro de 1892, o pequeno grupo de cinco pessoas, antes mencionado, ajoelhou-se ao lado da cama, e o “portador de armadura” primeiro agradeceu pelo fato de o querido sofredor estar em paz. descanse, e então elogiou todos os que haviam sido tão dolorosamente desamparados à graça sustentadora do Divino Consolador. Antes que alguém se mexesse, outra voz foi ouvida: a da amada viúva, que, naquela hora difícil, agradeceu ao Senhor pelo precioso tesouro que por tanto tempo lhe foi emprestado, e buscou no trono da graça a força e a ajuda tão dolorosamente.”

A notícia da morte de Spurgeon chegou no mundo todo como uma bomba. Muitos esperavam mais uma vez sua recuperação. O corpo de Spurgeon foi enviado para Londres e depois de vários serviços memorais fúnebres, foi enterrado no cemitério Norwood em 14 de fevereiro, de onde seu corpo espera até hoje a volta de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Esses dois breves sermões são as últimas pregações daquele que foi conhecido como o príncipe dos pregadores, mas que na verdade estava apenas fazendo o seu trabalho para o Rei Jesus, o verdadeiro príncipe dos príncipes. Ore para que esses textos o ajudem a refletir nos caminhos do ano passado e que possam servir de alento para o ano seguinte.[1]

 


Sermão 1 

Retrospectivas Divinas de Fim de Ano

Uma Breve mensagem pregada na noite de quinta-feira,

31 de dezembro de 1891

Por Charles Haddon Spurgeon

Para um pequeno grupo de amigos e sua esposa Susannah

Que foi sua penúltima pregação em vida, antes de seu falecimento

Em 31 de Janeiro de 1892

No Hôtel Beau Rivage, em Menton, Sul da França

(e publicada e editada na revista “The Sword of the Trowel” de Fevereiro de 1892, com o título de “Rompendo o longo silêncio”)

 

Queridos amigos, não posso dizer muito a vocês. Eu gostaria de tê-los convidado alegremente para a oração todas as manhãs se pudesse ter encontrado vocês. Mas eu não estava suficiente forte para fazê-lo. Todavia, não posso deixar de falar com vocês, nesta última noite do ano, como uma Retrospectiva, e talvez na manhã de Ano Novo, eu possa acrescentar uma palavra ao título de uma Perspectiva. Chegamos tão longe na jornada da vida, e estando no limite de outro ano, olhamos para trás. Você não precisará de mim para tentar elaborar palavras e frases bonitas: cada um, com seus próprios olhos, agora examinará o seu próprio caminho. Continue lendo

Deus Encarnado, o Fim do Medo – Sermão N° 727

Pregado na manhã de Domingo,

23 de Dezembro de 1866, por

C.H.SPURGEON

no Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres

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“E o anjo lhes disse: Não temais” Lucas 2:10 (ACF)

Quando o anjo do Senhor apareceu aos pastores, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles, eles ficaram aterrorizados. Chegou ao ponto em que os homens tiveram tanto medo de seu Deus, que quando o SENHOR enviou Seus pacíficos mensageiros com boas novas de grande alegria, os homens ficaram cheios de pavor como se fosse o anjo da morte que tivesse aparecido com a espada erguida diante deles. O silêncio da noite e a sua sombria escuridão não causaram temor no coração dos pastores, mas o alegre arauto dos céus, revestido das delicadas vestes das glórias da graça, fizeram eles temerem. De modo algum podemos condenar os pastores por esse motivo, embora eles fossem particularmente tímidos ou ignorantes, eles estavam apenas agindo como qualquer outra pessoa daquela época teria feito nas mesmas circunstâncias.

Não foi porque eram pastores simples que ficaram atemorizados de tão maravilhados, pois é provável que até os profetas bem instruídos teriam demonstrado o mesmo sentimento. Porque há muitos casos registrados nas Escrituras em que as autoridades de seu tempo tremeram e sentiram pavor das noites longas quando as manifestações sobrenaturais de Deus lhes eram concedidas.

Na verdade, um temor servil a Deus era tão comum que surgiu uma tradição dele, que foi universalmente recebida como nada mais e nada menos que seguinte verdade: geralmente acreditava-se que toda manifestação sobrenatural deveria ser considerada um símbolo de morte rápida. “Certamente pereceremos porque vimos a Deus.”(Juízes 13:22) não foi apenas a conclusão de Manoá, mas sim, da maioria dos homens de sua época. Na verdade, poucas pessoas eram aquelas mentes bem-aventuradas que, como a esposa de Manoá, podiam pensar de um ponto de vista mais positivo: “Se o Senhor tivesse a intenção de nos destruir, Ele não nos teria mostrado coisas como essas.” (Juízes 13:23).

Tornou-se a firme convicção estabelecida de todos os homens, sejam letrados ou ignorantes, bons ou maus, que uma manifestação de Deus não era tanto para se celebrar, pelo contrário, era para ser temida. Da mesma forma que disse Jacó: “Quão terrível é este lugar! Não é outro senão a casa de Deus” (Gênesis 28:17). Sem dúvida o espírito que originou essa tradição foi incentivado pela dispensação legal, a qual é mais adequada para servos medrosos do que filhos amados. Era o espirito da escrava, que gerou em escravidão. Como na solene noite em que foi ordenada a prática da maior ordenança numa noite de tremor, a morte estava presente na morte do cordeiro. (conf. Êxodo 12).  O sangue estava espalhado pelos umbrais das casas, não havia fogo para assar o cordeiro, e todos os sinais do julgamento estavam lá para marcar a mente com temor. Foi na terrível meia-noite que solenemente se reuniram a família, com porta fechada, e os próprios convidados numa atitude ansiosa e aterrorizados, pois os seus corações podiam ouvir o som das asas do anjo da morte ao passar pela casa.

Mais adiante na história, quando Israel chegou no deserto, e a Lei foi proclamada, porventura não lemos que o povo ficou afastado? E que limites foram estabelecidos ao redor do monte? E se caso um animal tocasse o monte seria apedrejado ou abatido por um dardo? (conf. Êxodo 19:12-13).  Foi um dia de medo e tremor quando Deus falou com eles do meio do fogo. Não foi com os acordes suaves da harpa, do hinário ou do saltério que a lei do Senhor chegou aos ouvidos de Seu povo. Não foi pelo voo suave dos anjos que a mensagem veio, nem por algum dia ensolarado e calmo, dado por Deus, que a mente foi cativada. Pelo contrário, foi através de som de trombeta e trovões, no meio dos resplandecentes relâmpagos, e com Sinai totalmente fumegando que a lei foi dada. A declaração da lei era clara: “Não se aproximem daqui a noite!”. O espírito do Sinai é medo e tremor.

As cerimônias da lei eram mais para inspirar temor do que gerar confiança.  O levita no templo viu derramamento de sangue desde o primeiro dia do ano até o final do ano. A manhã nascia com o derramamento de sangue do cordeiro, e as sombras da tarde não poderiam se pôr sem que o sangue fosse novamente derramado sobre o altar. Deus estava no meio do arraial, todavia a coluna de nuvem e de fogo era Seu cômodo inacessível. O emblema de Sua glória estava oculto atrás da cortina de linho fino azul e escarlate torcido, atrás da qual apenas um pé poderia passar, e isso apenas uma vez por ano (conf. Levítico 16). Homens falavam do Deus de Israel com respiração pausada, em voz baixa e num tom solene. Eles não aprenderam a falar: “Pai Nosso que estás nos céus”.

Eles não receberam o Espírito de adoração e não estavam capacitados a dizer ‘Abba’, Pai. Eles sofriam sob o espírito da escravidão, o que os deixava com muito medo quando o Senhor manifestava Sua presença entre eles por meio de qualquer derramamento imprevisto de Sua glória. Por trás de todo esse temor servil estava o pecado.

Nunca encontramos Adão com medo de Deus, nem temendo qualquer manifestação da Dele enquanto ele estava no paraíso como uma criatura obediente, mas assim que ele tocou no fruto proibido, percebeu que estava nu e se escondeu (Genesis 3:7). Ao ouvir a voz do Senhor Deus caminhando no jardim no final do dia, Adão ficou apavorado e escondeu-se da presença do Senhor entre as árvores do jardim. O pecado torna todos nós miseráveis covardes. Veja, o homem que antes conseguia manter um diálogo agradável com seu Criador agora se esconde no jardim como um malfeitor consciente de sua culpa e que teme enfrentar os oficiais da justiça.

Amados, para remover este terrível pesadelo no medo servil do seio da humanidade, onde sua horrível influência reprime todas as aspirações mais nobres da alma, nosso Senhor Jesus Cristo veio em carne. Esta é uma das obras do diabo que Ele se manifestou para destruir. Os anjos vieram anunciar as boas novas do advento do Deus encarnado, e a primeira nota de sua canção foi uma antecipação da feliz consequência de Sua vinda a todos aqueles que O receberiam.  O anjo declarou: “Não temais”, como se os tempos de medo tivessem findados e os dias de esperança e jubilo tivessem chegado. “Não temais”. Essas palavras não foram dirigidas apenas àqueles pastores trêmulos, mas também foram dirigidas a você e a mim, sim, e a todas as nações as quais as boas novas chegariam. Deixe Deus não ser mais um objeto do seu temor servil! Não fiquem mais distante Dele. A Palavra se fez carne. Deus desceu seu tabernáculo entre os homens para que não haja barreira de fogo nem um abismo escancarado entre Deus e o homem.

Desejo abordar este assunto esta manhã, e que Deus me ajude. Tenho consciência da riqueza do assunto e estou muito ciente de que não posso fazer jus. Eu sinceramente pediria a Deus, o Espírito Santo, que fizesse você beber do cálice dourado da encarnação de Cristo os goles que eu tenho desfrutado em minhas meditações pessoais. Dificilmente posso desejar maior alegria para meus amigos mais queridos. Para o medo não há antídoto mais excelente do que o tema daquela canção da meia-noite, os primeiros e melhores corais natalinos, que desde a primeira estrofe até a última nota ressoa a doce mensagem, que começa com “não temais”:

 

“É o meu mais doce conforto, Senhor,

E sempre será,

Meditar sobre a graciosa verdade

Da Tua Humanidade.

 

Ah, alegria! Habitando em carne,

Sobre um trono resplandecente,

Nascido de uma mãe humana,

E em perfeita Divindade brilhante!

 

“Embora os fundamentos da terra sejam abalados,

Até suas profundezas;

Embora todo o universo, tremulo,

Seja varrido para a destruição;

 

Para sempre Deus, para sempre homem,

Meu Jesus permanecerá;

E fixada Nele está, minha esperança permanece

Eternamente segura.”[1]

Queridos amigos, primeiro chamarei a atenção de vocês com algumas observações sobre o temor de que já contei. Assim, em segundo lugar, despertarei sua sincera atenção para o remédio que os anjos vieram proclamar. E então, em terceiro lugar, conforme tivermos tempo, nos esforçaremos para fazer uma aplicação deste remédio sob várias circunstâncias. Continue lendo

Um Feliz Natal – Sermão N° 352

Pregado na manhã de Domingo,

23 de dezembro de 1860, pelo

REV. C.H.SPURGEON,

No Exeter Hall, Strand

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“E foram seus filhos e festejaram em suas casas, cada um no seu dia; e mandaram chamar suas três irmãs para comerem e beberem com eles. E sucedeu que, passados ​​os dias da sua festa, Jó os enviou e os santificou; e levantou-se de madrugada, e ofereceu holocaustos, segundo o número de todos eles; porque Jó disse: Pode ser que meus filhos pecaram e amaldiçoaram a Deus em seus corações. Assim fez Jó continuamente. Jó 1:4-5

 

Jó era um homem extremamente feliz antes de sua grande provação. Ele foi tão abençoado com o fruto de seu corpo como no seu cesto e na sua provisão. Nosso texto nos dá uma imagem muito agradável da família de Jó. Ele era um homem feliz por ter tido tantos filhos confortavelmente acomodados na vida; notem que todos eles tinham casas, e eles haviam deixado seu telhado; todos eles haviam se estabelecido e prosperado tanto no mundo que não havia nenhum deles que não tivesse bens suficientes para entreter todos os demais. De modo que parecia que a prosperidade de Jó em seus negócios havia acompanhado seus filhos nos diferentes lugares onde se estabeleceram. Para aumentar seu conforto, eles eram uma família indivisa: não como a casa de Abraão, onde havia um Esaú e um Jacó que procurava suplantá-lo; nem como a casa de Jacó, onde havia José, porém todos os demais irmãos tinham inveja e ciúme dele. Os descendentes de Jó eram uma grande tribo; mas eles estavam todos unidos e entrelaçados em laços de perfeita felicidade; além disso parecem ter tido um grande desejo de preservar a sua unidade como família. Talvez Jó e sua família fossem os únicos que temiam a Deus na vizinhança, e desejavam, portanto, manter-se unidos como um pequeno rebanho de ovelhas no meio de lobos, como um aglomerado de estrelas no meio da escuridão espessa; e que constelação brilhante eles eram, todos brilhando e proclamando a verdade de Deus!

Digo que era o desejo deles não apenas desfrutar do prazer e da paz, mas também mantê-los; pois penso que essas reuniões anuais em casas diferentes tinham a intenção de uni-los, de modo que, se surgisse alguma pequena discórdia, assim que se encontrassem na casa do próximo irmão, tudo poderia ser resolvido, e tudo poderia continuar novamente, ombro a ombro e pé a pé, como uma falange de soldados de Deus. Acho que Jó deve ter sido um homem muito feliz. Não sei se ele sempre ia às festas deles; talvez a sobriedade da idade o tenha desqualificado um pouco para participar de suas alegrias juvenis; mas tenho certeza de que ele elogiou o banquete deles. Tenho certeza de que ele não os condenou. Se ele o tivesse condenado, ele nunca teria oferecido sacrifício a Deus para que não pecassem, mas ele lhes teria dito imediatamente que era uma coisa pecaminosa e que ele não poderia tolerar isso. Acho que vejo o grupo feliz, tão feliz e santo que certamente se Davi estivesse lá, ele teria dito: “Eis, quão bom e quão agradável é para os irmãos habitarem juntos em união!” [Salmo 133:1 KJV1611]. Mas Jó era um homem piedoso, e tão piedoso que, ao contrário de Eli, ele criou sua família no temor de Deus, e não apenas foi rápido em observar qualquer pecado conhecido, mas também foi extremamente zeloso de seus filhos, para que secreta e inadvertidamente em seus corações, enquanto estavam em suas mesas lotadas, poderiam ter dito ou pensado qualquer coisa que pudesse ser considerado uma blasfêmia contra Deus. Ele, portanto, assim que a festa terminou, Jó reuniu-os todos e então, como pregador, contou-lhes o perigo a que estavam expostos, e como sacerdote (pois todo patriarca antes da lei era sacerdote) ele ofereceu holocaustos para que nenhum pecado permanecesse sobre seus filhos e filhas.

Assim diz o texto, e oro para que agora tenhamos graça para ouvi-lo; e que o que ouviremos agora permaneça conosco durante a próxima semana, quando alguns de vocês se reunirão em suas próprias casas! Que Deus conceda que nossos pais, ou nós mesmos, se formos pais, possamos ser como Jó, e quando a festa terminar, que venha o sacrifício e a oração, para que não tenhamos pecado e blasfemado contra Deus em nossos corações!

Dividirei meu sermão assim. Primeiro, o texto, e isso é festivo: então tocaremos um sino alegre. Em segundo lugar, o que está no texto, e isso é instrutivo: assim tocaremos o sino do sermão. E, em terceiro lugar, o que segue o texto, e que é aflitivo: assim tocaremos o sino do funeral. Continue lendo

Um Banquete Celestial para o Natal – Sermão N° 846

Pregado na manhã de Domingo,

20 de Dezembro de 1868

Por Charles Haddon Spurgeon

no Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

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 “E o Senhor dos Exércitos dará neste monte a todos os povos um farto banquete com animais gordos, uma festa com vinhos envelhecidos, carnes com tutanos gordos e com vinhos velhos, bem purificados e com borras.” Isaías 25:6

Estamos quase chegando à grande época de festividades do ano. No dia de Natal encontraremos todos da Inglaterra divertindo-se com todo jubilo que puderem sentir. Como servos do Senhor, vocês possuem a maior parte da alegria na pessoa Daquele que nasceu em Belém, assim, convido-os a melhor de todas as ceias de Natal, convido-os ao prato mais nobre que nos faz suspirar na mesa: o pão do céu, o alimento para seu espírito. Eis quão ricas e abundantes são as provisões que Deus providenciou para a grande celebração, a qual Ele deseja que Seus servos se recordem, não apenas agora, mas sim, por todos os dias de suas vidas!

O Senhor, no versículo que temos diante de nós, teve o prazer de descrever as disposições do Evangelho de Jesus Cristo. Apesar de outras interpretações já terem sido sugeridas para este verso, elas são todas monótonas e obsoletas, e totalmente cheias de expressões pobres relacionadas ao que está diante de nós. Quando contemplamos a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, cuja carne é a verdadeira comida e cujo sangue é verdadeira bebida – quando O vemos oferecido no monte determinado, logo, descobrimos uma plenitude de significado nestas benditas palavras de santa hospitalidade: “O Senhor preparará uma festa com animais gordos, carnes cheias de tutano”.

Nosso próprio Senhor gostava muito de descrever Seu Evangelho sob a mesma imagem que é aqui empregada. Certa vez, Ele comentou a respeito da boda de um casamento real: “Meus bois e meus novilhos estão abatidos, e tudo está preparado.” (Mateus 22:4). E não parecia que Ele podia sequer completar a beleza da parábola do filho pródigo sem matar o bezerro gordo e sem terminar com um banquete, com música e dança. Assim como uma festividade na terra é aguardada e estimada como um oásis em meio ao deserto do tempo, o Evangelho de Jesus Cristo é para a alma que foi docemente libertada de sua escravidão e angustia, provando de gozo e alegria. Sobre este assunto pretendemos falar esta manhã, e ansiamos sermos socorridos pelo grande Anfitrião da celebração.

Nosso primeiro tópico será a festa. O segundo será a respeito do salão do banquete – “neste monte”. O terceiro será o Anfitrião – “O Senhor fará uma festa”. E no quarto tópico veremos sobre os convidados – “Ele fará isso para todas as pessoas”.

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O que é a Fé? – Sermão N° 1609

o que é féO que é a Fé? E como obtê-la?

N° 1609

Sermão pregado na manhã de domingo de 17 de julho de 1881 por Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

IMPRESSO COM UMA NOTA DE C.H.SPURGEON AO FINAL

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“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé;” – Efésios 2:8

Tenho o propósito de considerar primordialmente a expressão: “por meio da fé”. Contudo, peço-lhes antes de tudo que prestem atenção na origem da nossa salvação, que é a graça de Deus. “Pela graça sois salvos, por meio da fé”. Uma vez que Deus é clemente, os pecadores são perdoados, convertidos, purificados e salvos. Não são salvos devido a qualquer coisa neles, ou o que pode haver neles, nunca, mas é graças ao ilimitado amor, a bondade, a piedade, a compaixão, a misericórdia e a graça de Deus. Então, pare por um momento na primavera, contemplem o limpo rio da água da vida no momento em que brota do trono de Deus e do Cordeiro. Quão grande abismo é a graça de Deus! Quem poderia sondá-lo? Como todos os demais atributos divinos, é infinita. Deus está pleno de amor, pois “Deus é amor”; Deus está pleno de bondade e o próprio nome “Deus” é senão um sinônimo de bom[1]. A bondade ilimitada e o amor formam parte da própria essência da divindade. Graças à “sua misericórdia que dura para sempre” os homens não são destruídos. Graças a “nunca cessarem suas misericórdias” os pecadores são conduzidos a Ele e são perdoados. Lembrem-se bem disso, pois de outra forma, se fixam suas mentes na fé, que é o canal da salvação, ao ponto de esquecer a graça, que é a fonte e a origem mesma de sua fé, podem cair no erro. A fé é a obra da graça de Deu em nós. Ninguém pode chamar a Jesus Cristo senão pelo Espírito Santo. “Ninguém pode vir a mim” – disse Cristo. – “se o Pai que me enviou não o trouxer”, de tal maneira que a fé, que é vir a Cristo, é o resultado de uma atração divina. A graça é a primeira e a última causa da salvação, e a fé, valiosa como é, é somente uma parte importante das máquinas empregadas pela graça. Somos salvos “por meio da fé”, mas é “pela graça”. Divulguem, como com trombetas de arcanjos, estas palavras: “pela graça sois salvos”.

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Para que serve a Lei? – Sermão n° 128

n° 128

Sermão pregado no Domingo de 19 de Abril de 1857

por Charles Haddon Spurgeon

No Music Hall, Royal Surrey Gardens, Londres.

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“Então, para que serve a lei?” — Gálatas 3:19

O Apóstolo Paulo, mediante um argumento poderoso e altamente engenhoso, demonstrou que a lei não foi estabelecida por Deus para a justificação e salvação do homem. Ele declara que Deus fez um pacto de graça com Abraão muito antes de a lei ser dada no Monte Sinai; que Abraão não esteve presente no Monte Sinai, e que, portanto, não pode fazer alteração alguma ao pacto feito ali por alguma sugestão sua; que, além disso, não foi pedido o consentimento de Abraão para alguma alteração do pacto, e sem sua aprovação o pacto não poderia ter sido mudado legalmente; e, também, que o pacto permanece firme e irrevogável, visto que foi feito à semente de Abraão, como sendo ao próprio Abraão. “Isto, pois, digo: Sobre o pacto previamente ratificado por Deus para com Cristo, a lei que veio quatrocentos e trinta anos depois, não o pode ab-rogar, para invalidar a promessa. Porque se a herança provém da lei, já não decorre da promessa; mas Deus a concedeu a Abraão mediante a promessa.”

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Uma Exortação aos Pecadores – Sermão N° 219

Exortação aos pecadores-castelo-forteN° 219

Sermão pregado na noite de Domingo, 14 de Setembro, 1856.

Por Charles Haddon Spurgeon

Em Exeter Hall, Strand, Londres.

 

“Este recebe pecadores” (Lucas 15.2)

Quando essas palavras foram ditas, o grupo que havia se reunido junto ao Salvador era muito singular, pois o evangelista nos informa que: “aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir”. Os publicanos formavam a pior categoria da sociedade, e eram os opressores públicos, menosprezados e odiados pelos judeus mais insignificantes. E precisamente eles, juntamente com os mais perversos, a escória das ruas e o desperdício da sociedade de Jerusalém, rodeavam a este poderoso pregador, Jesus Cristo, para escutar Suas palavras. Afastados um pouco da multidão, encontravam-se uns cidadãos um tanto respeitáveis, que naqueles dias eram chamados fariseus e escribas: homens sumamente estimados como autoridades, dirigentes e mestres nas sinagogas. Eles viam com desprezo o Pregador, e o vigiavam com olhares invejosos para O surpreender em algum erro. Se não podiam encontrar Nele algum erro, facilmente podiam encontrar em Sua congregação; Sua relação com eles escandalizava aquele falso conceito de decência, e quando observavam que Ele era afável com os indivíduos mais depravados, que falava palavras amorosas às pessoas mais caídas da humanidade, falavam Dele como querendo desonrá-lo, embora resultasse em algo extremamente honroso: “Este homem recebe pecadores”.

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Nunca! Nunca! Nunca! Nunca! Nunca! – Sermão N° 477

N° 477

Sermão pregado na manhã de Domingo, 26 de outubro de 1862

Por Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

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Porque Ele disse: Não te desampararei, nem te deixarei.” Hebreus 13:5.

“Ele mesmo disse: Nunca te deixarei nem te desampararei.”

Hebreus 13:5. A Bíblia das Américas

 Em “assim disse Jeová” reside um grande poder. O homem que pode empunhar, mediante a fé, esta espada: “Porque Ele disse”, tem em sua mão uma arma que vence tudo. Existe alguma dúvida que não possa ser eliminada por esta espada de dois gumes? Qual medo não cairá aniquilado com uma ferida mortal proporcionada por esta flecha saída do arco do pacto de Deus? Se podemos nos apoiar no baluarte “porque Ele disse”, acaso as tribulações da vida e as agonias da morte não parecerão apenas leves aflições? E não acontecerá exatamente o mesmo com as corrupções internas e com as tentações externas, com as tribulações que provêm do alto e com as tentações que surgem de baixo? Seja para encontrar deleite em nossa quietude ou para receber fortaleza em nosso conflito, “porque Ele disse” há de ser nosso refúgio cotidiano.

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Grande Perdão para Grande Pecado – Sermão N° 2863

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Um sermão para o culto de Vigília pregado por

Charles Haddon Spurgeon

Na noite de 31 de Dezembro de 1876

E publicado na quinta-feira, 24 de Dezembro de 1903

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“E é pelo sangue deste que temos a redenção, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da Sua Graça.” Efésios 1:7.

 

Não há quase necessidade de dizer a vocês que Paulo está aqui escrevendo em relação ao Senhor Jesus Cristo. De fato, Cristo era seu tema constante, tanto na pregação quanto na escrita. Tomei conhecimento de ministros que conseguem pregar um sermão sem mencionar do começo ao fim o nome de Jesus. Se alguma vez vocês ouvirem um sermão como esse, cuidem para que nunca mais ouçam outro sermão desse homem! Se um padeiro assasse alguma vez para mim um pão sem nenhuma farinha em sua composição, eu tomaria as providências necessárias para que ele jamais fizesse isso de novo. E digo o mesmo a respeito do homem que prega um Evangelho sem Cristo! Deixe que aqueles que não valorizam suas almas imortais vão e ouçam-no; mas, prezados amigos, sua alma e a minha são por demais preciosas para serem colocadas à mercê de tal pregador. Continue lendo

O Leito de Morte Real – Sermão N°426

N°426

Na manhã de domingo, 22 de dezembro de 1861

Por Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

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“Sucederá algum mal à cidade, sem que o Senhor o tenha feito?” Amós 3.6b ARA

 

Nesta manhã, não lidaremos com a questão do mal moral, e, de fato, com o assombroso mistério da origem do mal moral, não lidamos hora nenhuma! Podem ter existido alguns que especulam sobre esta matéria, os quais, como Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, conseguiam andar em meio ao fogo ilesos, mas a maioria dos homens que se aventuraram próximos à boca desta inflamada questão tiveram o mesmo fim dos guardas de Nabucodonosor – caíram, destruídos pela influência explosiva de seu calor! O problema que temos a resolver não é o de como nasceu o mal, mas de como ele irá morrer – não como ele veio ao mundo, mas de todo o transtorno que causou desde sua chegada e como deve ser removido. As pessoas que desperdiçam seu tempo em especulações inúteis e curiosas sobre a origem do mal moral geralmente são preguiçosas demais para buscar na prática a expulsão do inimigo e, assim, matam tempo e aplacam suas consciências investindo em profundas polêmicas e em vã barulheira sobre assuntos que não nos interessam.

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