Nº 385
Exposição pronunciada na quinta-feira, 11 de abril de 1861.
Pelo Rev. C. H. Spurgeon
Como abertura de uma série de conferências, pronunciadas por diversos pregadores convidados por ocasião da abertura do Tabernáculo Metropolitano, em Newington, Londres
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Os trabalhos se iniciaram, sob a presidência de C.H.Spurgeon, as 15:00 horas, com o cântico do hino nº 21:
Salvos do poder condenatório do pecado,
Tremenda maldição da Lei,
Cantos sacros começaremos,
Onde Deus conosco começou.
Cantaremos a vasta, imensurável Graça,
A qual, desde antanho
Seus filhos eleitos abraçou,
Como ovelhas em seu aprisco.
A base de eterno amor
Sustentará o alicerce da misericórdia;
Terra, inferno ou pecado, igualmente
Em vão conspirarão.
Cantai, vós, pecadores comprados por sangue,
Saudai o grande uno e trino Deus,
Contai quão firme já era a aliança,
Antes mesmo que o tempo começasse o seu curso.
Não sentiríeis a culpa do pecado,
Nem o dulçor do amável perdão
Se vossos indignos nomes
Não estivessem arrolados para a vida celestial.
Oh! Que doce e exultante canto,
A romper a abóbada celestial,
Quando, bradando a graça, as hostes redimidas
Contemplarão o mover de suas lápides!
O Rev. George Wyard, de Deptford, fez uma oração.
O Rev. C. H. Spurgeon, dando início aos trabalhos, disse:
Nós já nos reunimos sob este teto para definir a maior parte das verdades de que consistem as peculiaridades desta Igreja. Na noite de ontem, nos esforçamos por demonstrar ao mundo que nós reconhecemos de coração a unidade essencial da Igreja do Senhor Jesus Cristo. E agora, nesta tarde e noite, é nossa intenção, por meio dos lábios de nossos irmãos, demonstrar as coisas que são verdadeiramente recebidas entre nós, e especialmente aqueles grandes pontos que tão amiúde foram atacados, mas que ainda são tidos e mantidos – verdades que nós provamos, em nossa experiência, serem cheias de graça e de verdade. Minha única função nesta ocasião é apresentar os irmãos que se dirigirão a vós outros, e o farei tão brevemente quanto possível, fazendo como que um prefácio a suas comunicações.
A polêmica que tem prosseguido entre os calvinistas e os arminianos é sumamente importante, mas não envolve a questão crucial da santidade pessoal de tal forma que torne a vida eterna dependente de se esposar um ou outro desses sistemas teológicos. Entre os protestantes e os papistas há polêmicas dessa natureza, de modo que aquele que é salvo, por um lado, pela fé em Jesus, não ousa concordar que seu oponente, do lado oposto, possa ser salvo no que depender de suas próprias obras. Ali, a polêmica é por vida ou morte, porque gira sobre a Doutrina da Justificação pela Fé, a qual Lutero apropriadamente chamou de “a doutrina de verificação”, pela qual uma Igreja permanece ou cai. A polêmica, novamente, entre o crente em Cristo e o Sociniano, é uma que concerne a um ponto vital. Se o Sociniano estiver correto, estamos em abominável erro, e nós de fato somos idólatras – como haveria de habitar em nós a vida eterna? E se estamos corretos, nossa maior caridade não nos permitiria imaginar que um homem pode entrar no Céu sem crer na real divindade do Senhor Jesus Cristo. Há outras polêmicas, portanto, que atingem o centro, e tocam a própria essência da questão.
Eu entendo, porém, que todos estamos livres para admitir que, conquanto John Wesley, por exemplo, em tempos recentes defendeu com zelo o arminianismo, e por outro lado, George Whitefield com igual fervor lutou pelo calvinismo, nenhum de nós deve estar preparado, seja em que lado estivermos, para negar a santidade de um ou de outro. Não podemos fechar nossos olhos para o que cremos ser o crasso erro de nossos oponentes, e devemos nos achar indignos do nome de homens honestos, se pudermos admitir que eles estejam certos em todas as coisas, e nós também o estejamos! Um homem honesto tem um intelecto que não o permite crer que “sim” e “não” podem ambos subsistir ao mesmo tempo e serem ambos verdadeiros. Não posso dizer “é”, e meu irmão, à queima-roupa, dizer “não é”, e ambos estarmos corretos quanto ao assunto! Estamos dispostos a admitir – de fato, não ousamos dizer o contrário – que a opinião neste assunto não determina o estado futuro ou mesmo o presente, de qualquer homem!
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