A Ressurreição dos Mortos – Sermão Nº 66-67

Nº 66-67

Sermão pregado na manhã de Domingo, 17 de Fevereiro, 1856

Por Charles Haddon Spurgeon

Na Capela de New Park Street, Southwark, Londres.

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Há de haver ressurreição dos mortos, tanto dos justos como dos injustos” Atos 24:15.

 

Meditando outro dia sobre o triste estado das igrejas em nosso tempo, fui conduzido a observar em retrospectiva aos tempos apostólicos, e a considerar em quê difere a pregação destes dias da pregação dos apóstolos. Notei a vasta diferença em seu estilo em relação à oratória formal e determinada da época presente. Observei que os apóstolos não tomavam um texto quando pregavam, nem se reduziam a somente um tema, e muito menos a algum lugar de adoração, e também descobro que paravam em qualquer lugar e declaravam desde a plenitude de seu coração o que sabiam de Jesus Cristo. Mas a principal diferença que observei radicava nos temas de sua pregação. Me surpreendi quando descobri que o elemento principal da pregação dos apóstolos era a ressurreição dos mortos. Percebi que eu estava pregando sobre a doutrina da graça de Deus, que havia sustentado a livre eleição, que estava conduzindo ao povo de Deus da melhor maneira que podia às profundas coisas de Sua palavra; mas me surpreendi ao descobrir que não estava copiando a maneira apostólica, nem sequer a metade do que eu poderia ter feito.

 

Os apóstolos, quando pregavam, sempre davam testemunho da ressurreição de Jesus, e a consequente ressurreição dos mortos. Parece que o Alfa e o Ômega de seu evangelho foi o testemunho de que Jesus Cristo morreu e ressuscitou outra vez dos mortos de acordo as Escrituras. Quando escolheram a outro apóstolo no lugar de Judas, que se converteu em um apóstata, disseram: “Alguém seja feito testemunha conosco, de sua ressurreição,” de tal forma que a essência do ofício de um apóstolo era ser uma testemunha da ressurreição.

 

E cumpriram muito bem o seu ofício. Quando Pedro se apresentou diante da multidão, declarou que: “Davi falou da ressurreição de Cristo”. Quando Pedro e João foram levados ante o concílio, a maior causa de sua prisão foi que os governantes estavam ressentidos “de que ensinassem ao povo, e anunciassem em Jesus a ressurreição dentre os mortos”. Quando foram postos em liberdade depois de terem sido examinados, nos é dito que: “Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e abundante graça era sobre eles”. Foi isto que motivou a curiosidade dos atenienses quando Paulo pregou no meio deles: “Parece que és pregador de novos deuses; porque lhes pregava o evangelho de Jesus e da ressurreição”. E isto provocou as risadas dos areopagitas, pois quando falou da ressurreição dos mortos, “Uns zombavam, e outros diziam: acerca disto te ouviremos ainda outra vez”. Em verdade Paulo disse, quando compareceu ante o concílio dos fariseus e dos saduceus: “Acerca da ressurreição dos mortos sou julgado hoje por vós”. E é igualmente verdadeiro que constantemente asseverava: “Se Cristo não ressuscitou, então nossa pregação é vã, vã também é a vossa fé… ainda estais em vossos pecados”.

 

A ressurreição de Jesus e a ressurreição dos justos são doutrinas na qual nós cremos, mas que raramente pregamos ou nos interessamos em ler. Ainda que eu tenha procurado em várias livrarias um livro especialmente relacionado com o tema da ressurreição, todavia não consegui comprar nenhum livro de nenhum tipo relacionado com o tema; e quando procurei nas obras do doutor Jonh Owen, que constituem uma mina inestimável do conhecimento divino, e que contêm muito do que é valioso sobre quase qualquer tema, escassamente pude encontrar, inclusive ali, mais que uma rápida menção da ressurreição. Foi classificada como uma verdade bem conhecida, e portanto, nunca foi discutida. Não surgiram heresias relacionadas com ela; teria sido quase uma misericórdia se tivessem surgido, poi sempre que uma verdade é disputada pelos hereges, os ortodoxos lutam impetuosamente por ela, e o púlpito ressoa com ela cada dia.

 

Contudo, estou persuadido de que há muito poder nesta doutrina; e se a prego esta manhã, observarão que Deus reconhecerá a pregação apostólica, e haverá conversões. Pretendo colocá-la à prova, agora, para ver se não há algo que não podemos perceber no presente na ressurreição dos mortos, que seja capaz de mover os corações dos homens e levá-los a sujeitarem-se ao Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

 

Há pouquíssimos cristãos que crêem na ressurreição dos mortos. Poderiam assombrar-se ao escutar isso, mas não me surpreenderia se descobrisse que você mesmo abriga dúvidas com respeito a esse tema. Pela ressurreição dos mortos se quer expressar algo muito diferente da imortalidade da alma que cada cristão crê, e nisso está no mesmo nível do pagão, que também crê nela. A luz da natureza é suficiente para nos dizer que a alma é imortal, assim que o infiel que duvida é um néscio pior que um pagão, pois este, antes que a revelação fosse dada, o tinha descoberto: há débeis vislumbres nos homens de razão que ensinam que a alma é uma coisa tão maravilhosa que há de perdurar para sempre.

 

Mas a ressurreição dos mortos é uma doutrina bastante diferente, que trata, não com a alma, senão com o corpo. A doutrina consiste em que este corpo material no qual existo agora há de viver com minha alma; que não somente é a “faísca vital da chama celestial”, a que há de arder no céu, senão o próprio incensário no qual o incenso de minha vida fumega, é santo para o Senhor e há de ser preservado para sempre.

 

O espírito, todo o mundo o confessa, é eterno; mas quantos há que negam que os corpos dos homens se levantarão efetivamente de suas sepulturas no grande dia! Muitos de vocês crêem que terão um corpo no céu, mas creem que será um fantasmagórico corpo etéreo, no lugar de crer que será um corpo semelhante a este: carne e sangue – ainda que não o mesmo tipo de carne, pois não toda carne é a mesma carne –  um corpo substancial, sólido, tal como o que temos aqui.

 

E há um grupo, todavia menor, de pessoas entre vocês que creem que os ímpios terão corpos no inferno; pois está ganhando terreno por toda a parte a convicção de que não haverá tormentos reais para os condenados que afetem seus corpos, senão que haverá de ser um fogo metafórico, um enxofre metafórico, cadeias metafóricas e uma tortura metafórica.

 

Mas se fossem cristãos como professam ser, creriam que cada homem mortal que haja existido, não somente viverá pela imortalidade de sua alma, senão que seu corpo viverá outra vez, que a própria carne na qual caminha agora na terra é tão eterna como a alma, e existirá eternamente. Essa é a peculiar doutrina do cristianismo.

 

Os pagãos não adivinharam nem imaginaram nunca tal coisa, e por isso, quando Paulo falou da ressurreição dos mortos, “uns zombavam,” o que demonstra que entendiam que falava da ressurreição do corpo, pois não teriam zombado se somente houvesse falado da imortalidade da alma, pois isso já havia sido proclamado por Platão e Sócrates, e havia sido recebido com reverência.

 

Agora estamos a ponto de pregar que haverá uma ressurreição dos mortos, tanto dos justos como dos injustos. Vamos considerar primeiro a ressurreição dos justos; e em segundo lugar, a ressurreição dos injustos.

 

I. Haverá UMA RESSURREIÇÃO DOS JUSTOS.

 

A primeira prova que oferecerei disto, é que há sido a constante e invariável verdade dos santos desde os primeiros períodos de tempo. Abraão cria na ressurreição dos mortos, pois se diz na Epístola aos Hebreus, no capítulo 11, e no versículo 19, que “pensava que Deus é poderoso para levantar, ainda dentre os mortos, de onde, em sentido figurado, também o recobrou”. Não guardo nenhuma dúvida de que José cria na ressurreição, pois deu instruções concernentes a seus ossos; e seguramente não haveria sido tão cuidadoso de seu corpo, se não houvesse crido que haveria de ser ressuscitado dos mortos. O patriarca Jó era um firme crente na ressurreição, pois comentou no texto que é citado repetidamente: “Eu sei que o meu Redentor vive, e ao fim se levantará sobre a terra; e depois de consumida esta minha pele, ainda em minha carne verei a Deus”. Davi cria na ressurreição mais além de qualquer sombra de dúvida, pois cantou sobre Cristo: “Porque não deixarás minha alma no Hades, nem permitirás que teu Santo veja corrupção”. Daniel creu nela, pois disse: “Muitos dos que dormem no pó da terra serão despertados, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e confusão perpétua”. As almas não dormem no pó, os corpos sim.

 

Lhes fará bem atentar a uma ou duas passagens para ver o quê estes santos homens pensavam. Por exemplo, em Isaías, em 26:19, se lê: “Teus mortos viverão; seus cadáveres ressuscitarão. Despertai e cantai, os que habitais no pó! Porque seu orvalho é como orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos”. Não ofereceremos nenhuma explicação. O texto é positivo e seguro.

 

Deixemos que fale outro profeta: Oséias, no capítulo 6 e versículos 1 e 2: “Vinde e tornemos a Jeová; porque ele arrebatou, e nos curará; fez a ferida, e no-la atará. Nos dará vida depois de dois dias; no terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele”. Ainda que isto não declare a ressurreição, a usa como uma figura que não seria útil se não fosse considerada como uma verdade estabelecida. Paulo também declara em Hebreus 11:35, que essa foi a fé constante dos mártires, pois diz: “Outros foram atormentados, não aceitando o resgate, a fim de obter melhor ressurreição”.

 

Todos esses homens e mulheres santos que, durante o tempo dos Macabeus[1], se mantiveram firmes por sua fé, e suportaram o fogo e a espada e inarráveis torturas, creram na ressurreição, e essa ressurreição os estimulava para entregar seus corpos às chamas, sem que lhes importasse nem sequer a morte, senão que criam que depois alcançariam uma bendita ressurreição.

 

Mas nosso Senhor trouxe a ressurreição à luz da maneira mais excelente, pois explicita e frequentemente a declarou. “Não vos maravilheis disto”, disse, “porque virá a hora quando todos os que estão nos sepulcros ouvirão sua voz”. “Vem a hora quando chamará aos mortos a juízo, e estarão diante de seu trono”. Em verdade, em toda Sua pregação houve um fluxo contínuo de uma crença firme, e de uma positiva declaração pública da ressurreição dos mortos. Não os aborrecerei com passagens dos escritos dos apóstolos: eles abundam no tema. De fato, a Santa Escritura está tão cheia desta doutrina que me surpreende, irmãos, que nos tenhamos apartado tão rapidamente da firmeza de nossa fé, e que se chegasse a crer em muitas igrejas que os corpos materiais dos santos não viverão outra vez, e especialmente que os corpos dos ímpios não terão existência futura. Nós sustentamos segundo nosso texto, que “Há de haver ressurreição dos mortos, tanto dos justos como dos injustos”.

 

Uma segunda prova, pensamos, a encontramos na transposição de Enoque e Elias ao céu. Lemos de dois homens que foram ao céu em seus corpos. “Caminhou, pois, Enoque com Deus, e desapareceu, porque Deus o tomou para si” (Gênesis 5:24), e Elias foi transportado ao céu em um carro de fogo (2 Reis 2:11). Nenhum destes dois homens deixou suas cinzas no sepulcro: nenhum deixou seu corpo para que fosse consumido pelos vermes, e ambos ascenderam ao alto em seus corpos mortais – sem dúvida transformados e glorificados. Agora, esses dois indivíduos foram a garantia de que todos iremos ressuscitar da mesma maneira. Seria provável que dois espíritos resplandecentes estivessem no céu vestidos de carne, enquanto o resto de nós estivéssemos desnudos? Seria algo razoável que Enoque e Elias foram os únicos santos que tiveram seus corpos no céu, e que nós estivéssemos ali unicamente em nossas almas, pobres almas! Desejando contar outra vez com nossos corpos?

 

Não, nossa fé nos diz que havendo estes dois homens ido ao céu com segurança, como o expressa John Bunyan[2], por uma ponte que ninguém mais pisou, graças ao qual não se viram na necessidade de atravessar o rio, nós seremos alçados das águas, e nossa carne não habitará para sempre na corrupção.

 

Há uma notável passagem em Judas, na qual se diz de que quando o arcanjo Miguel contendia com o diabo pelo corpo de Moisés, não se atreveu a proferir “juízo de maldição” (Judas 9). Agora, isto se refere à grande doutrina de que os anjos vigiam os ossos dos santos. Certamente nos informa que o corpo de Moisés era vigiado por um grandioso arcanjo; o diabo pensava perturbar esse corpo, mas Miguel contendia com ele por essa causa. Agora, haveria uma contenda acerca desse corpo se não fosse de nenhum valor? Contenderia Miguel por aquilo que haveria de servir unicamente de alimento dos vermes? Lutaria com o inimigo por aquele que haveria de ser espargido aos quatro ventos do céu, para não ser reunido nunca em um esqueleto melhor e novo? Não, seguramente que não.

 

Disto aprendemos que um anjo vigia sobre cada tumba. Não é uma ficção quando esculpimos sobre o mármore os querubins com suas asas. Há querubins com asas estendidas sobre as lápides sepulcrais de todos os justos; e onde há “os rústicos antepassados da aldeia dormem”, em algum canto recoberto de urtigas, ali está um anjo noite e dia para vigiar cada osso e proteger cada átomo, para que na ressurreição esses corpos, com mais glória do que a que tiveram na terra, possam levantar-se para morar para sempre com o Senhor. A custódia dos corpos dos santos, por parte dos anjos, demonstra que ressuscitarão outra vez dos mortos.

 

Mas, ademais, as ressurreições que já aconteceram nos dão esperança e confiança de que haverá uma ressurreição de todos os santos. Não recordam que está escrito que quando Jesus ressuscitou dos mortos, muitos dos santos que estavam em seus sepulcros ressuscitaram, e vieram à cidade, e apareceram a muitos? Não ouviram que Lázaro, ainda que esteve morto três dias, saiu do sepulcro à palavra de Jesus? Não leram nunca como a filha de Jairo despertou do sonho da morte quando Ele disse: “Talita cumi”? Não O viram às portas de Naim, ordenando que o filho da viúva se levante do caixão? Esqueceram-se que Dorcas, que fazia vestidos para os pobres, se sentou e viu a Pedro depois de ter estado morta? E não se lembram de Eutico que caiu do terceiro piso abaixo, e foi levantado morto, mas, ante a oração de Paulo, foi ressuscitado de novo? Ou não voa sua imaginação ao tempo quando o envelhecido Elias se deitou sobre o menino morto, e a criança respirou, e espirrou sete vezes, e sua alma voltou a ele? Ou não leram que quando enterraram a um homem, tão rapidamente como tocou os ossos do profeta, reviveu, e se levantou sobre seus pés? Estes são presentes da ressurreição; uns quantos espécimes, umas quantas joias ocasionais que são lançadas no mundo para nos dizer quão cheia de joias da ressurreição está a mão de Deus. Ele nos tem dado provas de que é capaz de ressuscitar aos mortos pela ressurreição de uns quantos que depois foram vistos na terra por testemunhas infalíveis.

 

Mas agora devemos deixar estas coisas e devemos referi-los ao Espírito Santo a modo de confirmação da doutrina de que os corpos dos santos ressuscitarão de novo. O capítulo no qual encontrarão uma grande prova está na Primeira Epístola aos Coríntios, 6:13: “Mas o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo”. O corpo, então, é do Senhor. Cristo morreu, não somente para salvar minha alma, senão para salvar meu corpo. Se afirma que Ele “veio buscar e salvar o que se havia perdido”.

 

Quando Adão pecou perdeu seu corpo, e perdeu também sua alma; era um homem perdido, perdido por completo. E quando Cristo veio para salvar a Seu povo, veio para salvar seus corpos e suas almas. “Mas o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor”. Acaso é este corpo para o Senhor, e contudo, será devorado pela morte? Acaso é este corpo para o Senhor, e os ventos espalharão para bem longe suas partículas de onde nunca encontrarão a seus congêneres? Não! O corpo é para o Senhor, e o Senhor o terá. “E Deus, que levantou ao Senhor, também a nós levantará com seu poder”.

 

Agora vejam o verso seguinte: “Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo”? Não unicamente a alma é uma parte de Cristo, unida a Cristo, senão o corpo também o é. Estas mãos, estes pés, estes olhos, são membros de Cristo, se sou um filho de Deus. Sou um com Ele, não unicamente enquanto à minha mente, senão um com Ele enquanto à este corpo físico. O próprio corpo é tomado em união. A cadeia de ouro que ata a Cristo a Seu povo se estende ao redor do corpo e da alma também. Acaso não disse o apóstolo: “Os dois serão uma só carne. Grande é este mistério; mas eu digo isto com respeito de Cristo e da igreja”? (Efésios 5:31,32). “Os dois serão uma só carne”, e o povo de Cristo não somente é um com Ele em espírito senão que são “uma só carne também”. A carne do homem está unida com a carne do Deus-homem; e nossos corpos são membros de Jesus Cristo. Bem, enquanto viva a cabeça, o corpo não pode morrer; e enquanto Jesus viva, os membros não podem perecer.

 

Ademais, o apóstolo disse, no versículo 19: “Ou ignorais que vosso corpo é templo do Espírito Santo, o qual está em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois vossos? Porque foram comprados por preço”. Diz que este corpo é o templo do Espírito Santo; e quando o Espírito Santo mora em um corpo, não somente o santifica, senão que o torna eterno. O templo do Espírito Santo é tão eterno como o Espírito Santo. Pode-se demolir outros templos e seus deuses também, mas o Espírito Santo não pode morrer, nem “pode perecer Seu templo”. Acaso este corpo conteve uma vez ao Espírito Santo será pasto de vermes sempre? Não será visto mais, senão que será como os ossos secos do vale? Não, os ossos secos viverão, e o templo do Espírito Santo será edificado outra vez. Ainda que as pernas – os pilares – desse templo caiam, ainda que os olhos – suas janelas – se escureçam, e aqueles que veem através deles não vejam mais, contudo, Deus reconstruirá este tecido, iluminará outra vez os olhos, e restaurará seus pilares e renovará sua beleza, sim, “quando isto que é corruptível for revestido de incorrupção, e isto que é mortal for revestido de imortalidade”(1 Coríntios 15:53).

 

Mas o argumento fundamental com o que concluímos nossa prova é que Cristo ressuscitou dos mortos, e, em verdade, Seu povo também ressuscitará. O capítulo que lemos ao começo da reunião é prova de uma demostração de que se Cristo ressuscitou dos mortos, todo Seu povo há de ressuscitar; que se não há ressurreição, então Cristo não ressuscitou. Mas não considerarei esta prova por muito tempo, pois eu sei que todos vocês sentem seu poder, e não há necessidade de que eu a exponha claramente.

 

Como Cristo ressuscitou, em realidade, dos mortos: carne e sangue, assim será para nós. Cristo não era um espírito quando ressuscitou dos mortos; Seu corpo podia ser tocado. Acaso Tomé não colocou sua mão em Seu flanco? E não lhe disse Cristo: “Apalpai-me, e vede; porque um espírito não tem carne e nem ossos, como veem que eu tenho”. E se ressuscitaremos como ressuscitou Cristo – e isso não é o que se nos ensina – então ressuscitaremos em nossos corpos, não como espíritos, não como excelentes coisas etéreas, feitos de não sei o quê, de alguma substância sumamente elástica e refinada, senão que “como o Senhor nosso salvador ressuscitou, assim todos os seus seguidores ressuscitarão”.

 

Ressuscitaremos em nossa carne, ainda que “não toda carne é a mesma carne”, ressuscitaremos em nossos corpos, ainda que não todos os corpos são os mesmos corpos; e ressuscitaremos em glória, ainda que não todas as glórias são as mesmas glórias. “Uma carne é a dos homens, outra carne é a das bestas”, e há uma carne deste corpo, e outra carne do corpo celestial. Há aqui um corpo para a alma, e outro corpo para o espírito do além; e contudo, será o mesmo corpo que ressuscitará de novo do sepulcro: o mesmo, digo, em identidade, ainda que não em glória ou em adaptação.

 

Chego agora a alguns pensamentos práticos derivados desta doutrina, antes de passar a outras considerações.

 

Irmãos meus, que pensamentos de consolo há nesta doutrina, que afirma que os mortos ressuscitarão de novo. Alguns de nós estivemos parados junto à sepultura esta semana; e um de nossos irmãos, que serviu amplamente a seu Senhor em nosso meio, foi colocado no sepulcro. Ele foi um homem valente pela verdade, incansável nos trabalhos, abnegado no dever, e sempre preparado a seguir a seu Senhor – se trata do senhor Turner, da escola Lamb & Flag[3] –  e na máxima medida de sua capacidade, foi serviçal para a igreja. Agora, ali se viram algumas lágrimas derramadas: sabem a quê se deviam? Não houve uma só lágrima solitária que tenha sido derramada por sua alma. Não tivemos que recorrer à doutrina da imortalidade da alma para que nos desse consolo, pois a conhecíamos bem, estávamos perfeitamente seguros de que havia ascendido ao céu. O Serviço Funerário utilizado na Igreja da Inglaterra não nos oferece nenhum consolo relativo à alma do crente que partiu, e isso é sábio de sua parte[4], posto que está na bem-aventurança, senão que nos alenta recordando-nos a ressurreição prometida para o corpo; e quando falo em relação aos mortos, não é para dar consolo enquanto à alma, senão enquanto ao corpo. E esta doutrina da ressurreição tem consolo para os duvidosos em relação à mortalidade enterrada. Vocês não choram porque seu pai, irmão, esposa, esposo, tenha ascendido ao céu: seriam cruéis se chorassem por isso. Nenhum de vocês chora porque sua amada mãe está diante do trono, senão choram porque seu corpo está na sepultura, porque esses olhos já não podem sorrir-lhes, porque essas mãos não podem acariciar-lhes, porque esses doces lábios não podem pronunciar melodiosas notas de afeto. Choram porque o corpo está frio, e morto, semelhante ao barro. Vocês não choram pela alma.

 

Mas eu tenho um consolo para vocês. Esse mesmo corpo ressuscitará de novo; esse olho cintilará com força de novo; essa mão será estendida com afeto mais uma vez. Creiam-me, não estou dizendo-lhes nenhuma ficção. Essa mesma mão, essa mão real, esses braços frios, semelhantes ao barro, que penduram pelo lado e se caem ao ser levantados por vocês, sustentarão uma harpa um dia; e esses pobres dedos, agora gelados e duros, serão agitados ao longo das cordas vivas das harpas de ouro no céu. Sim, vocês verão esse corpo uma vez mais.

 

“Seus pecados inatos requerem

Que sua carne veja o pó,

Mas assim como o Senhor seu Salvador ressuscitou,

Assim hão de fazê-lo Seus seguidores”.

 

Isso não secará suas lágrimas? “Não está morto, senão que dorme”. Não está perdido, senão que é “semente semeada para que amadureça para a colheita”. Seu corpo está descansando por pouco tempo, banhando-se em especiarias, para que seja apto para os abraços de seu Senhor.

 

E aqui há consolo para vocês também, para vocês, pobres sofredores, que sofrem em seus corpos. Alguns de vocês são quase mártires que experimentam dores de um tipo ou de outro: dores lombares, gota, reumatismos, e todo tipo de tristes situações das que a carne é herdeira. Escassamente transcorre um dia sem que sejam atormentados com um sofrimento de algum tipo ou outro; e se não fossem o suficientemente néscios para estar auto receitando-se sempre, poderiam ter a cada momento ao doutor de visita na sua casa.

 

Aqui há consolo para vocês. Esse seu pobre corpo em ruínas viverá outra vez sem suas dores, sem suas agonias; esse pobre andaime trêmulo receberá o reembolso de tudo o que tem sofrido. Ah! Pobre escravo negro, cada cicatriz sobre suas costas terá uma franja de honra  no céu. Ah! Pobre mártir, a crepitação de teus ossos no fogo lhe recompensará alguns sonetos na glória; todos os teus sofrimentos serão bem pagos pela felicidade que experimentarás além. Não tema sofrer no corpo, porque seu corpo participará um dia de seus deleites. Cada nervo se estremecerá de gozo, cada músculo se moverá pela bem-aventurança; seus olhos brilharão com o fogo da eternidade; seu coração palpitará e pulsará com bem-aventurança imortal; sua estrutura será o canal de beatitude; o corpo que agora é com frequência um copo de absinto, será um recipiente de mel, esse corpo que é por vezes um favo do qual se destila fel, será um favo de bem-aventurança para você. Recebam consolo, então, vocês que sofrem, que definham desfalecidos no leito: não tenham medo, pois seus corpos viverão.

 

Mas quero extrair do texto uma palavra de instrução em relação à doutrina do reconhecimento. Muitos se perguntam perplexos se reconhecerão a seus amigos no céu. Bem, agora, se os corpos ressuscitarão dos mortos, não vejo razão alguma para que não os reconheçamos. Creio que conhecerei a alguns de meus irmãos, incluso por seus espíritos, pois conheço muito bem seu caráter, tendo falado com eles das coisas de Jesus, e conhecendo muito bem as partes mais proeminentes de seu caráter.

 

Mas também verei seus corpos. Sempre considerarei como um golpe contundente, a resposta à pergunta da Sr. Ryland do velho John Ryland. “Pensas que me conhecerás no céu”? “Vamos” – lhe respondeu – “te conheço aqui; e crês que serei mais insensato no céu do que sou na terra?” A pergunta está fora de toda disputa. Viveremos no céu com corpos, e isso decide o assunto. Iremos nos reconhecer uns aos outros no céu; podem tomar isso como um fato real, e não como uma simples fantasia.

 

Mas agora teremos uma palavra de advertência, e então haverei concluído com esta parte do meu tema. Se seus corpos habitarão no céu, lhes suplico que cuidem deles. Não me refiro a que tenham cuidado com o que comem e bebem, e com o que se vestirão, senão que refiro a que tenham cuidado de que seus corpos não sejam contaminados pelo pecado. Se essa garganta cantará para sempre os cânticos de glória, não permitam que palavras de impudência a sujem. Se esses olhos verão ao Rei em Sua formosura, então essa será sua oração: “Aparta meus olhos, que não vejam a vaidade”. Se essas mãos sustentarão uma rama de palma, oh, então nunca receberão o suborno, nunca buscarão o mal. Se esses pés caminharão pelas ruas de ouro, então não deverão ser ligeiros para a maldade. Se essa língua falará para sempre de tudo o que Ele disse e fez, então não expressará coisas superficiais e frívolas. E se esse coração palpitará para sempre com bem-aventurança, lhes suplico que não o entreguem a estranhos; tampouco lhe permitam extraviar-se para o mal. Se este corpo viverá para sempre, que cuidado temos que lhe dar, pois nossos corpos são templos do Espírito Santo, e são membros do Senhor Jesus.

 

Agora, crerão nesta doutrina ou não? Se não creem, estão excomungados da fé. Essa é a fé do Evangelho; e se não creem nela, todavia não receberam o Evangelho. “Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é vã; ainda estais em vossos pecados”. Os mortos em Cristo vão ressuscitar, e ressuscitarão primeiro.

 

II. Mas agora chegamos à RESSURREIÇÃO DOS ÍMPIOS. Ressuscitarão os ímpios também? Aqui temos um ponto de controvérsia. Agora terei que dizer coisas duras: poderia detê-los um pouco, mas lhe peço que me escutem com atenção. Sim, os ímpios ressuscitarão.

 

A primeira prova nos é proporcionada na segunda Epístola aos Coríntios, 5:10: “É necessário que todos nós compareçamos ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba seguindo o que tenha feito enquanto estava no corpo, seja bom ou seja mal”. Agora, posto que todos temos que comparecer, os ímpios comparecerão, e receberão segundo o que tenham feito no corpo. Como o corpo peca, é natural que o corpo seja castigado. Seria injusto castigar a alma e não o corpo, pois o corpo esteve tão envolvido com o pecado como esteve a alma em todo momento.

 

Mas em qualquer lugar que vou agora ouço que se afirma: “Os ministros em tempos antigos eram propensos a dizer que havia fogo no inferno para nossos corpos, mas não é assim; é um fogo metafórico, um fogo imaginário”. Ah! Não é assim. Receberão as coisas feitas em seu corpo. Ainda que suas almas tenham de ser castigadas, seus corpos também serão castigados. Vocês que são sensuais e diabólicos, não se preocupam de que suas almas sejam castigadas, porque nunca pensam acerca de suas almas, mas se eu lhes falo de um castigo para o corpo, pensarão muito mais nele. Cristo disse que a alma será castigada, mas descreveu com maior frequência ao corpo em aflição para impressionar aos Seus ouvintes, pois sabia que eram sensuais e diabólicos, e que nada que não afetasse o corpo os tocaria no mínimo detalhe. “É necessário que todos nós compareçamos ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tenha feito enquanto estava no corpo, seja bom ou seja mal”.

 

Mas este não é o único texto que demonstra a doutrina, e lhes darei um que é melhor: Mateus 5:29: “Se teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros, e não que todo o teu corpo seja lançado ao inferno”. Não diz: “que toda a tua alma”, senão “todo o teu corpo”. Amigo, isto não diz que sua alma estará no inferno – isso é afirmado muitas vezes – senão que declara afirmativamente que seu corpo estará. Esse mesmo corpo que agora está parado no corredor, ou sentado no banco, se chegar a morrer sem Cristo, arderá para sempre nas chamas do inferno. Não é uma fantasia do homem, senão uma verdade que sua carne material e seu sangue, e esses próprios ossos sofrerão: “todo o teu corpo seja lançado no inferno”.

 

Mas se uma prova não te satisfaz, escute outra extraída do mesmo Evangelho, capítulo 10:28: “Não temais aos que matam o corpo, mas a alma não podem matar; temei antes ao que pode destruir a alma e o corpo no inferno”. O inferno será um lugar para corpos assim como para almas. Tal como observei, sempre que Cristo fala do inferno e do estado perdido dos ímpios, fala em todo momento de seus corpos; escassamente o encontram dizendo algo acerca de suas almas. Ele disse: “Onde o verme deles não morre”, que é uma figura de um sofrimento físico: o verme que tortura para sempre o íntimo do coração, como um câncer dentro da própria alma.

 

Ele fala do “fogo que não pode ser apagado”. Agora, não comecem a dizer-me que se trata de um fogo metafórico: a quem lhe importa isso? Se um homem me ameaçasse em dar-me um golpe metafórico na cabeça, pouco me preocuparia a respeito; seria bem-vindo para que me desse os golpes que quisesse. E que dizem os ímpios? “A nós não nos importam os fogos metafóricos”. Mas, amigo, são reais, sim, tão reais como você mesmo. Há um fogo real no inferno, tão certo como agora tens um corpo real, há um fogo exatamente igual em tudo ao que temos na terra, exceto nisso: que não se consumirá, ainda que lhe torturará.

 

Você já viu ao amianto quando está vermelho vivo dentro do fogo, mas quando o tiras, não se consumiu. De igual maneira seu corpo será preparado por Deus de tal maneira que arderá para sempre sem ser consumido; estará metido, não como você considera, em um fogo metafórico, senão em uma chama real. Tinha em mente nosso Salvador uma ficção quando disse que lançaria corpo e alma no inferno? Para que haveria um abismo se não houvesse corpos? Por quê o fogo, por quê as cadeias, se os corpos não fossem estar ali? Pode tocar o fogo à alma? Pode o abismo encerrar aos espíritos? Podem as cadeias atar às almas? Não, o abismo, o fogo e as cadeias são para os corpos, e os corpos estarão ali. Você dormirá no pó por pouco tempo.

 

Quando morra, sua alma será atormentada sozinha, isso será um inferno para ela, mas no dia do juízo seu corpo se unirá à sua alma, e então terá infernos gêmeos, corpo e alma estarão juntas, ambos repletos de dor, tua alma suando gostas de sangue pelos poros mais íntimos e teu corpo coberto de agonia da cabeça aos pés, consciência, juízo, memória, todos sendo torturados, ainda mais: sua cabeça sendo atormentada por dores dilacerantes, seus olhos saltando de suas órbitas com sangue e dor, seus ouvidos sendo atormentados com:

 

“Melancólicos gemidos e lamentos profundos.

E alaridos de torturados espíritos”.

 

Seu coração palpitará precipitadamente pela febre; seu pulso se agitará em agonia à uma enorme velocidade, seus membros crepitarão no fogo como o dos mártires, mas não arderão; você mesmo, colocado em um recipiente de azeite fervente, estará dolorido, mas permanecerás sendo indestrutível, todas as suas veias se converterão em uma senda que será recorrida pelos pés ardentes da dor, cada nervo será uma corda sobre a qual o diabo tocará para sempre sua diabólica melodia do “Lamento Inarrável do Inferno”, tua alma doerá eternamente e para sempre, e seu corpo palpitará ao uníssono com sua alma.

 

Ficções, senhor! De novo o digo: não são ficções, e vive Deus que se trata de uma verdade sólida e severa. Se Deus é veraz, e esta Bíblia é verdadeira, o que tenho dito é a verdade, e descobrirão algum dia que assim é.

 

Mas agora devo ter um pequeno raciocínio com os ímpios sobre um ou dois pontos. Primeiro, argumentarei com aqueles de vocês que estão muito orgulhosos de seus atrativos corpos, e que se arrumam com excelentes ornamentos, e se tornam gloriosos em suas roupas. Há alguns de vocês que não têm tempo para a oração, mas têm tempo suficiente para escovar seus cabelos por toda uma eternidade; não têm tempo para dobrar seus joelhos, mas têm tempo abundante para tratar de parecer prontos e grandiosos. Ah, fina dama, tu que cuidas teu rosto muito bem maquiado! Lembra-te que do que alguém disse na antiguidade quando alçou uma caveira para contempla-la:

 

“Digam a ela, que ainda que se cubra

com uma polegada de pintura,

A esta pele há de chegar ao fim”.

 

E algo pior que isso: esse belo rosto será marcado com as garras dos demônios, e esse formoso corpo será unicamente o instrumento de tormento. Ah! Veste-se para o verme, altivo cavalheiro; se unja para as rasteiras criaturas do sepulcro; e ainda pior, venha ao inferno com seu cabelo empavonado: “Um cavalheiro no inferno”, descende ao abismo com teus preciosos vestidos, senhor meu, vá além, para encontrar-se não mais alto que os demais, exceto talvez por uma tortura maior, e submergido mais profundamente nas chamas.

 

Ai, Já não nos convém desperdiçar aqui tanto tempo nas coisas menores, quando há tanto por fazer, e tão pouco tempo para fazê-lo, no que está relacionado à salvação das almas dos homens. Oh Deus, nosso Deus, livra aos homens de celebrar e de dar prazer aos seus corpos, quando somente estão engordando-os para o matadouro, e alimentando-os para que sejam devorados nas chamas.

 

Ademais, ouçam-me quando digo que estão gratificando às suas concupiscências: sabem que esses corpos cujas lascívias gratificamos aqui, estarão no inferno, e que terão as mesmas concupiscências no inferno que as que têm aqui? O libertino se apressa em dar prazer a seu corpo no que deseja, poderá fazer isso no inferno? Poderá encontrar um lugar ali no qual gratifique sua concupiscência e encontre indulgência para seu sujo desejo? Aqui, o bêbado pode despejar em sua garganta a taça intoxicante e mortal; mas, onde encontrará o licor para beber no inferno, quando a embriaguez será tão ardente sobre ele como o é aqui? Onde encontrará sequer uma gota de água para refrescar a língua ardente? O homem que ama aqui a glutonaria, será um glutão além, mas onde estará a comida que lhe satisfaça, quando ainda que sustentasse seu dedo no alto veria que os pães se distanciam, e não lhe será permitido que tome nenhum fruto? Oh, ter suas paixões, e contudo, não poder satisfazê-las! Encerrar um bêbado um sua cela e não dar-lhe nada de beber! Se lançaria contra a parede para conseguir o licor, mas não há licor para ele. O que farás no inferno, oh bêbado, com essa sede na garganta, e não podendo tragar nada senão chamas flamejantes que incrementam seu suplício?

 

E o que você fará, oh pessoa dissoluta, quando todavia quiser estar seduzindo a outros, mas não há nada com quem possa pecar? Falo claramente? Se os homens querem pecar, encontrarã homens que não se envergonhem para reprová-los. Ah, ter um corpo no inferno, com todas as suas concupiscências, mas sem o poder de satisfazê-las! Quão horrível será esse inferno!

 

Mas escutem-me, todavia uma vez mais. Oh, pobre pecador, se visse que vais ao esconderijo do inquisidor para ser atormentado, não te pediria que te detivesses antes que atravessasses o umbral? E agora lhe estou falando de coisas que são reais. Se estivesse esta manhã sobre um cenário, e estivesse atuando estas coisas como se fossem fantasias, lhes faria chorar: faria chorar aos piedosos ao pensar quantos serão condenados, e faria chorar aos ímpios ao pensarem que serão condenados. Mas quando falo de realidades, não se comovem nem a metade do que o fariam as ficções, e estão assentados como o estavam antes que a reunião começasse.

 

Mas ouçam-me, enquanto afirmo de novo a verdade de Deis. Eu lhe digo pecador, que esses olhos que agora veem à luxúria, verão às aflições que lhe humilharão e atormentarão. Esses ouvidos que prestas agora para ouvir à canção da blasfêmia, ouvirão gemidos, e lamentos, e sons horríveis, que somente os condenados conhecem. Essa mesma garganta pela qual agora derramas bebida, estará cheia de fogo. Esses seus próprios lábios e braços serão torturados ao mesmo tempo. Vamos, se você tem uma dor de cabeça, correria ao seu médico; mas o que farás quando sua cabeça, coração, e suas mãos, e teus pés te doerem todos de uma só vez? Quando somente tens uma dor em teus rins, buscas aos remédios que te curam, mas o que farás quando a gota, o reumatismo, a vertigem e tudo o que é vil ataquem seu corpo de uma só vez? Como te comportarás quando for aborrecido com todo tipo de enfermidade, lepra, paralisia, obscuridade, podridão, quando seus ossos doerem, seu medula trema, cada membro que tens esteja cheio de dor; teu corpo um templo dos demônios e um canal de aflições? E prosseguirás às cegas? Como vai o boi ao matadouro, e como coxeia a ovelha à faca do carniceiro, o mesmo ocorre com muitos de vocês.

 

Senhores, vocês estão vivendo sem Cristo, muitos de vocês, são justos com justiça própria e ímpios. Alguns de vocês sai esta tarde para tomar sua porção de prazer do dia; outro é um fornicador em segredo; outro pode enganar ao seu vizinho; outro pode maldizer a Deus de vez em quando; outro bem a esta capela mas em segredo é um bêbado; outro fala muito sobre a piedade, e Deus sabe que é um hipócrita desventurado. O que farás naquele dia quando estiveres diante do teu Criador? É pouco que teu ministro lhe censure agora; é pouco ser julgado pelo juízo do homem, o que farás quando Deus trovejar, não sua acusação, senão a sua condenação: “Apartai-vos de mim, malditos, ao fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos”?

 

Ah! Vocês que são sensuais, eu sabia que não jamais lhes comoveria enquanto falasse acerca de tormentos para suas almas. Lhes comovo agora? Ah, não! Muitos de vós se irão e irão rir, e me chamarão, como recordo que me chamaram uma vez antes, “um clérigo do fogo do inferno”. Bem, vão; mas verão um dia ao pregador do fogo do inferno no céu, talvez, e vocês mesmos serão lançados fora, e olhando para baixo com um olhar reprobatório, se puder, lhes recordarei que ouviram a palavra, e não a escutaram.

 

Ah, homens, é algo sem importância ouvi-la, será algo duro suportá-la! Agora me escutam insensíveis, será trabalho mais duro quando a morte se aferre a vocês e estejam queimando no fogo. Agora desprezam a Cristo, não lhe desprezarão então. Agora podem desperdiçar seus dias de Domingo; então, dariam mil mundos por um Domingo se pudessem tê-lo no inferno. Agora podem zombar e escarnecer; então, não haverá nem zombarias e nem escárnios; estarão gritando, e uivando, e chorando e pedindo misericórdia; mas:

 

“Não se permitem atos de perdão

Na fria sepultura à qual nos apressamos;

A escuridão, a morte e o grande desespero,

Reinam no eterno silêncio ali”.

 

Oh, meus queridos leitores! A ira vindoura! A ira vindoura! A ira vindoura! Quem de vós habitará em meio ao fogo consumidor? Quem de vós habitará com as chamas eternas? Podes fazê-lo, meu amigo? E você? Podes habitar com a chama eterna? “Oh, não”, respondes, “o que devo fazer para ser salvo?” Escute o que Cristo tem a dizer: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo; o que crê não será condenado”. “Vinde logo, diz Jeová, e arrazoemos: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; se forem vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã”.

 

ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALVÍFICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

 

FONTE: Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon66-67.htm

Traduzido com permissão de Allan Roman

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público

Sermão nº 66-67 — Volume 2 do The New Park Sreet Pulpit,

 

Tradução: Junior Rubira 

Revisão: Armando Marcos Pinto

Capa: Victor Silva

 

Projeto Spurgeon – Proclamando a Cristo crucificado.

Projeto de tradução de sermões, devocionais e livros do pregador batista reformado Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) para glória de Deus em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo, para edificação da Igreja e salvação e conversão de incrédulos de seus pecados.

Acesse em: www.projetospurgeon.com.br


[1]Tempo dos Macabeus: Período inter-bíblico quando, depois da morte de Alexandre o Grande, o Império que ele governara oi dividido em 3 partes, e na parte onde estava a Siria e Israel, Antíoco IV promoveu uma política de helenização em Israel, quando o Templo foi profanado e muitos judeus resistiram a profanação da religião judaica. Essa história é contada no livro apócrifo de I e II Macabeus (N.Revisor)

[2] Na Alegoria “o Peregrino”, no rio perto da Cidade Celestial que no livro tem um significado relativo a morte (N.R)

[3] Lamb and Flag School: aparentemente se tratava de uma casa de caridade inglesa do século XIX (Wikipédia e Google)

[4]No Livro de Oração Comum da Igreja da Inglaterra de 1662, no seu Serviço funerário, dentre outras orações, consta essa citação:Tendo sido do agrado do Onipotente Deus por sua grande misericórdia tomar para si a alma deste nosso amado irmão defunto, nós, portanto, encomendamos seu corpo à terra…  em esperança segura e certa da ressurreição a vida eterna, mediante nosso Senhor Jesu-Cristo; o qual transformará nosso vil corpo, para que seja semelhante Teu glorioso corpo, segundo a obra poderosa pela qual pode sujeitar a si mesmo todas as coisas.” (tradução do espanhol)