Breve mensagem pregada em 1º de Janeiro de 1892
Em Menton, Sul da França
(e Editada da revista “The Sword of the Trowel” de Fevereiro de 1892),
Atravessando o umbral do ano novo nessa hora, olhamos para adiante e, o que é que vemos? Ainda que pudéssemos conseguir um telescópio que nos permitisse ver o fim do ano, teríamos sabedoria para usá-lo? Não creio. Desconhecemos os eventos que nos esperam – a vida e a morte, nossa ou de nossos amigos, as mudanças de posição, a enfermidade ou a saúde. Que grande misericórdia é que essas coisas estejam ocultas para nós!
Se víssemos antecipadamente nossas mais seletas bênçãos, essas perderiam seu frescor e sua doçura, enquanto estivéssemos as aguardando impacientemente. A antecipação se tornaria amarga, se converteria em desânimo, e a familiaridade geraria desdém. Se pudéssemos ver antecipadamente nossas tribulações, nos preocuparíamos por elas muito antes que efetivamente viessem, e nesse desassossego perderíamos o desfrute de nossas bênçãos presentes. A grande misericórdia estendeu um véu entre nós e o futuro, e o deixou dependurado lá.
Não obstante, nem tudo está oculto. Vemos com claridade algumas coisas. Digo: ‘nós’, porem, quero dizer aqueles cujos olhos foram abertos, pois não é qualquer pessoa que pode ver, no sentido mais verdadeiro. Uma dama disse ao Sr. Turner: ‘Olhei com frequência esse panorama, mas nunca vi o que você incorporou em seu quadro’. O grande artista simplesmente lhe respondeu: ‘Não desejaria poder vê-lo?’ Olhando ao futuro com o olho da fé, os crentes podem ver muitas coisas que estão ocultas para os que não possuem fé. Permitam-me dizer-lhes em algumas quantas palavras o que eu enxergo quando examino o novo ano.
Vejo uma estrada construída desde este primeiro de Janeiro de 1892 ao primeiro de Janeiro de 1893. Vejo um caminho projetado pelo conhecimento antecipado e a predestinação de Deus. Nada sobre o futuro é deixado ao azar; e mais, nem a queda de um pardal, nem a perda de um cabelo, são deixados ao fortuito, antes bem, todos os eventos da vida estão arranjados e assinalados. Não só cada volta do caminho está assinalada no mapa divino, como também cada pedra da rota, cada gota do orvalho matutino e toda névoa noturna que cai sobre a erva que cresce junto ao caminho. Não vamos cruzar um deserto sem pisadas; o Senhor ordenou nossa senda em Sua infalível sabedoria e infinito amor. ‘Por Jeová são ordenados os passos do homem, e ele aprova seu caminho’.
Continuando, vejo que nos é proporcionado um Guia como nosso companheiro ao longo do caminho. A ele dizemos de boa vontade: ‘Me guiou segundo teu conselho’. Ele espera para ir conosco através de cada segmento do caminho. ‘E Jeová vai diante de ti; Ele estará contigo, não te deixará’. Não fomos deixados para que passemos pela vida como se fosse um deserto solitário, um lugar de dragões e corujas, pois Jesus disse: ‘Não os deixarei órfãos; virei à vós’.
Ainda que perdêssemos pai, e mãe, e aos mais queridos amigos, há Alguém que leva nossa natureza, que nunca se apartará de nosso lado. Alguém semelhante ao Filho do Homem ainda está pisando os caminhos vitais dos corações crentes, e cada crente verdadeiro sai do deserto apoiando-se sobre o Amado. Sentimos a presença do Senhor Jesus inclusive agora, nessa habitação, onde dois ou três estão reunidos em Seu nome; eu confio que a experimentaremos ao longo de todos os meses do ano, seja que se trate da estação do canto dos pássaros, ou da estação dos frutos maduros, ou dos escuros meses quando os blocos de gelo congelados parecem feitos de ferro.
Nessa Riviera, deveríamos dar-nos conta, sem tanto esforço, da presença de nosso Senhor, porque o campo se parece muito a “sua terra, ó Emanuel”. Aqui está a terra do azeite de oliva, dos figos e dos ramos de Escol. Junto a esse mar azul, caminhou e escalou por essas colinas rochosas. Porem, seja aqui, ou em qualquer outra parte, esperemos que Ele permaneça conosco, para fazer com que esse ano seja verdadeiramente ‘um ano de nosso Senhor’.
Junto ao caminho e ao Guia, percebo muito claramente, graças ao olho da fé, a força requerida para a viagem designada. Ao longo de toda a distância do ano, temos que encontrar pousadas onde possamos descansar e tomar refrigério, e logo prosseguir em nosso caminho cantando: “Conforta a minh’alma”. Teremos a fortaleza suficiente sem medo de sobra, e essa força virá quando seja requerida e não antes. Quando os santos imaginam que possuem força a poupar, se convertem em pecadores, e são inclinados a que suas madeixas sejam cortadas pelos filisteus. O Senhor do caminho ministrará aos peregrinos suficientes suprimentos para a viagem – porem, Ele poderia considerar que não é sábio carregá-los com fundos supérfluos.
Deus, que é suficiente para tudo, não lhes falhará após confiarem Nele. Quando chegamos a ponto de levar nos ombros a carga, teremos chegado ao lugar onde receberemos a força. Se agradar ao Senhor multiplicar nossas tribulações, fazendo que uma delas se converta em dez, Ele aumentará nossa força na mesma proporção. O Senhor ainda diz a cada crente: ‘Como teus dias, serão tuas forças’. Você não sente ter, ainda, a graça que necessita para morrer? Todavia você não está morrendo. Enquanto tem que ainda enfrentar o ofício e o dever da vida, espere em Deus a graça que essas coisas precisam – e quando a vida esteja então esvaindo, e seu único pensamento seja desembarcar na costa Eterna, então, espere, nos momentos de sua agonia, a graça de Deus teu Salvador para morrer.
Podemos esperar uma afluência de força divina quando a força humana está falhando, e uma cotidiana concessão de energia conforme a necessidade diária o necessite. Nossas velas serão avivadas no tanto que precisem arder. Nossa presente debilidade não deve tentar-nos a limitar ao Santo de Israel. Há uma hospedaria em cada passo dos Alpes da vida, e uma ponte que cruza cada rio da tribulação que atravessa nosso caminho rumo à Cidade Celestial. Os santos anjos que nos guardam são tão numerosos como os anjos caídos que nos tentam. Nunca teremos uma necessidade para a qual nosso Pai não houvesse previsto nenhum recurso.
Eu vejo muito claramente um poder que rege todas as coisas que ocorrem no caminho que percorremos. Vejo um alambique no qual são transformadas todas as coisas. “Sabemos que aos que amam a Deus, todas as coisas lhes ajudam para bem, isso é, aos que conforme a seu propósito são chamados”. Vejo uma mão que obra portentos, que converte para nós às espadas da enfermidade em arados de correção e as lanças da tribulação em podadeiras para disciplina. Graças a essa habilidade divina as coisas amargas são adocicadas, e os venenos são convertidos em remédios. “Nada os causará dano”, é uma promessa demasiadamente forte para a fé frágil – porem, a plena segurança descobre que é verdadeira. Posto que Deus está a nosso favor, quem poderia estar contra nós? Que felicidade é ver o Senhor mesmo como nosso estandarte, a Deus mesmo conosco como nosso Capitão! Sigamos adiante no novo ano, pois “não nos sobrevirá mal”.
Uma coisa que mais resulta ser a essência brilho mesmo: esse ano, confiamos ver que Deus é glorificado por nós e em nós. Se cumprirmos nosso fim mais importante, alcançaremos nossa felicidade mais excelsa. Pensar que Deus pode obter glória de tais pobres criaturas como nós, é o deleite do coração renovado. “Deus é luz”. Não podemos agregar nada a Seu brilho, mas podemos atuar como refletores que, ainda que não tenham nenhuma luz própria, quando o sol brilha sobre eles, refletem seus raios, e os enviam onde não teriam chegado sem tal reflexo. Quando o Senhor brilha em nós, projetamos essa luz nos lugares escuros e faremos que os que estão submersos na sombra da morte, se alegrem em Jesus nosso Senhor.
Esperamos que Deus tenha sido, em alguma medida, glorificado em alguns de nós durante o ano passado, porem confiamos que será glorificado por nós muito mais no ano que agora começa. Estaremos contentes de glorificar a Deus seja ativamente ou passivamente. Queremos que seja de tal maneira que, quando a história de nossa vida seja escrita, qualquer um que a leia não nos considere como ‘homens que se auto-realizaram’, mas sim como obras das mãos de Deus, em quem Sua graça foi engrandecida, Os homens não podem ver a argila em nós, mas sim nas mãos do Oleiro. Referir-se-ão a alguém dizendo: “é um excelente pregador” – de outro, dirão: “Nunca nos damos conta de como prega, mas sentimos que Deus é grande”.
Desejamos que nossa vida inteira seja um sacrifício, um altar de incenso que fumega continuamente com um doce perfume para o Altíssimo. Ó, ser levado ao longo do ano sobre as asas do louvor a Deus: subir de ano em ano, e elevar em cada ascensão um cântico mais excelso e, no entanto, mais humilde para o Deus de nossa vida! A visão de uma vida repleta de louvor não se acabará jamais, antes, continuará ao longo da eternidade. De salmo em salmo e de aleluia a aleluia, subiremos o monte do Senhor – até chegar ao Lugar Santíssimo, onde, com rostos velados, nos inclinaremos diante da Majestade divina na bem-aventurança de uma adoração sem fim. Que o Senhor seja com vocês ao longo de todo esse ano. Amém!
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FONTE: ÚLTIMO MENSAJE DE SPURGEON DE INICIO DE AÑO, em
http://allanroman.blogspot.com/2011/03/ultimo-mensaje-de-spurgeon-de-inicio-de.html (tradução de Allan Román)
Tradução e revisão:Armando Marcos
16 de dezembro de 2011