Um sermão pregado na manhã do Domingo, 6 de Janeiro, 1856
por Charles Haddon Spurgeon
Na Capela de New Park Street, Southwark, Londres.
“Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra, porque eu sou Deus, e não há outro.” Isaías 45:22.
Há seis anos atrás, quase nesta mesma hora do dia, me encontrava “em fel de amargura e em laços de iniquidade.” Contudo, pela graça divina, já tinha sido conduzido a sentir a amargura dessa servidão, e a clamar em razão da maldade dessa escravidão. Buscando o descanso sem encontrá-lo, entrei na casa de Deus e me sentei ali, temendo que, se levantasse o olhar, poderia ser cortado e consumido completamente por Sua severa ira. O ministro subiu ao púlpito e, da mesma forma como acabo de fazer, leu este texto: “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra, porque eu sou Deus, e não há outro.” Eu olhei no mesmo instante e a graça da fé me foi outorgada ali; e agora creio que posso afirmar verdadeiramente:
“Desde que pela fé vi a torrente,
Que é alimentada por Suas feridas sangrentas,
O amor redentor foi meu tema,
E assim será até que morra.”
Nunca esquecerei esse dia, enquanto conservar minha memória; tão pouco poderei deixar de repetir este texto cada vez que me lembrar daquele momento, quando conheci pela primeira vez para o Senhor. Foi um encontro surpreendentemente cheio de graça! E agora é uma experiência portentosa e maravilhosa para quem ouviu estas palavras faz tão pouco tempo, para proveito de sua própria alma, que eu possa dirigir-me a vocês hoje, como ouvintes do mesmo texto, com a plena esperança e confiança que algum pobre pecador, dentro destas paredes, ouça também para si, as boas novas de salvação, e que hoje, 6 de Janeiro, possa “lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus.”
Se estivesse dentro do alcance da capacidade humana, conceber um tempo no qual Deus morava só, sem Suas criaturas, teríamos então uma das ideias mais grandiosas e estupendas de Deus. Houve uma época quando o sol ainda não havia percorrido ainda sua rota, nem havia começado a projetar seus dourados raios através do espaço para alegrar a terra. Houve uma era na qual nenhuma estrela brilhava no firmamento, pois não havia nenhum mar azul no qual pudesse flutuar. Houve um tempo em que não existia nada do que agora contemplamos do grandioso universo de Deus, ainda não havia nascido ainda, mas dormia, incriado e inexistente, na mente de Deus; contudo, Deus existia e Ele era “sobre todos, Deus bendito eternamente.” Ainda que nenhum serafim cantasse os hinos de Seu louvor; ainda que nenhum querubim de asas potentes se apressasse como o raio para cumprir Suas ordens; ainda que Ele não tivesse um séquito, se sentava como um rei em seu trono, Deus todo poderoso, a ser para sempre adorado: o Augusto Supremo morava sozinho na vasta imensidão em solene silêncio, fazendo das plácidas nuvens Seu dossel[1], e a luz de Seu próprio rosto formava o brilho de Sua glória.
Deus era, e Deus é. Desde o princípio Deus era Deus; antes que os mundos tivessem um princípio, Ele era “de eternidade a eternidade.” Mas quando lhe agradou criar as Suas criaturas, vocês não creem que essas criaturas deveriam permanecer infinitamente abaixo d’Ele? Se vocês fossem oleiros e projetassem um navio em uma roda, crêem que essa peça de barro poderia exigir uma igualdade de condição com vocês? Não, mas estariam a uma grande distância, já que vocês teriam sido em parte seus criadores.
Assim, quando o Todo Poderoso formou Suas criaturas, por acaso não foi um consumado atrevimento que se aventurassem a se comparar por um só instante com Ele? Contudo, esse arqui-inimigo, esse líder dos rebeldes, Satanás, buscou elevar-se ao trono de Deus nas alturas, para logo descobrir que sua meta era demasiado elevada, e que o próprio inferno não era suficientemente profundo para escapar da vingança divina. Ele sabe que Deus é o “único Deus.” Desde que o mundo foi criado, o homem imita a Satanás; a criatura de um dia, a coisa efêmera de uma hora, buscou igualar-se ao Eterno. Por esta razão, um dos objetivos do grandioso Jeová sempre foi ensinar à humanidade que Ele é Deus, e não há outro. Esta é a lição que Ele tem estado ensinando ao mundo desde que o mundo se extraviou. Tem estado ocupado em derrubar os lugares altos, em exaltar os vales, em humilhar as imaginações e os olhares altivos, para que todo o mundo possa:
“Saber que só o Senhor é Deus,
Que pode criar e pode destruir.”
Nesta manhã tentaremos mostrar-lhes, em primeiro lugar, como Deus tem estado ensinando ao mundo esta grandiosa lição: que Ele é Deus, e não há outro; e logo, em segundo lugar, a maneira especial na qual quer ensinar esta lição com relação à salvação: “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra, porque eu sou Deus, e não há outro.”
I. Em primeiro lugar, então, COMO DEUS TEM ENSINADO ESTA LIÇÃO À HUMANIDADE?
Nós respondemos que em primeiro lugar ensinou aos deuses falsos, e aos idólatras que se inclinam diante deles. O homem, em sua perversão e pecado, estabeleceu que um pedaço de madeira e pedra seja seu criador, e se inclinou diante dele. Moldou para si, entalhando-a de uma árvore frondosa, uma imagem feita à semelhança de homem mortal, ou dos peixes do mar, ou das criaturas que se arrastam sobre a terra, e prostrou seu corpo e também sua alma diante dessa criatura saída de suas próprias mãos, chamando-a de Deus, ainda que não tivesse nem olhos para ver, nem mãos para segurar, nem ouvidos para ouvir!
Mas como derramou Deus Seu desprezo sobre os antigos deuses dos pagãos. Onde estão eles agora? Por acaso são sequer conhecidos? Onde estão essas deidades falsas diante de quem se prostravam as multidões de Nínive? Perguntem às toupeiras e aos morcegos que são seus companheiros; ou perguntem aos montes de areia sob os quais estão enterrados; ou sigam por onde o visitante ocioso caminha por todo o museu, contemplando-os como curiosidades, e sorrindo ao pensar que existiram homens que se inclinavam diante de deuses como esses.
E, onde estão os deuses da Pérsia? Onde estão? Os fogos estão apagados e o adorador do fogo quase desapareceu da terra. Onde estão os deuses da Grécia: esses deuses adornados com poesia, e celebrados nas mais sublimes odes? Onde estão? Desapareceram. Quem os menciona agora, a não ser como coisas do passado? Júpiter: por acaso alguém se inclina diante dele? E, quem adora a Saturno? Todos eles passaram e estão esquecidos. E, onde estão os deuses de Roma? Acaso Jano governa no templo? Alimentam as virgens vestais seus fogos perpétuos? Ainda há alguém que se incline diante desses deuses? Não, eles perderam seus tronos.
E, onde estão os deuses das Ilhas dos Mares do Sul: esses demônios sangrentos diante dos quais desventuradas criaturas prostravam seus corpos? Todos eles estão quase extintos. Perguntem aos habitantes da China e da Polinésia, onde estão os deuses diante dos quais se inclinavam. Perguntem, e o eco que repete, será sua única resposta: perguntem, e perguntem novamente. Eles foram derrubados de seus tronos; foram lançados de seus pedestais; seus carros estão destroçados, seus cetros foram consumidos pelo fogo, e suas glórias se foram; Deus obteve a vitória sobre os falsos deuses, e ensinou a seus adoradores que Ele é Deus, e não há outro.
Há deuses que ainda são adorados, ou há ídolos diante dos quais se as nações? Esperem somente um pouco de tempo, e os verão cair. Cruel Carro Monstro Destruidor[2], cujo carro esmaga em seu movimento os insensatos que se lançam diante dele, logo será objeto de escárnio; e os ídolos mais notáveis, tais como Buda, Brahma e Vishnu, cairão por terra, e os homens os pisarão como o lodo das ruas; pois Deus ensinará a todos os homens que Ele é Deus, e não há outro.
Observem, também, como Deus ensinou esta verdade aos impérios. Os impérios surgiram e se converteram nos deuses de sua época; seus reis e seus príncipes assumiram títulos elevados, e foram adorados por multidões de pessoas. Mas perguntem aos impérios se além de Deus, há mais alguém. Não podem escutar o solilóquio altivo da Babilônia: “Eu estou sentada como rainha, e não sou viúva, e nunca verei pranto;” E não pensem agora que se caminham sobre a Babilônia em ruínas, encontrarão algo, exceto o espírito solene da Bíblia, de pé como um profeta de cabelos grisalhos pela idade, dizendo-lhes que há um só Deus, e não há outro.
Vai à Babilônia, coberta de areia, a areia de suas próprias ruínas; Fiquem sobre os montes de Nínive, e escutem como uma voz se eleva: “Há um só Deus, e os impérios afundam diante d’Ele; há uma só potestade, e os príncipes e os reis da terra com suas dinastias e tronos são esmagados pela planta de Seu pé.” Vão, e sentem-se no templo da Grécia; vejam ali as arrogantes palavras que uma vez foram pronunciadas por Alexandre; mas agora, onde está ele, e onde está também seu império? Sentem-se nos arcos em ruínas da ponte de Cartago, ou caminhem dentro dos desolados teatros de Roma, e ouvirão uma voz levada pelo vento selvagem em meio às ruínas: “Eu sou Deus, e não há outro.” “Oh, cidade, tu te chamavas eterna; Eu fiz com que te derretas como orvalho. Tu disseste: ‘eu estou sobre sete colinas, e permanecerei para sempre;’ Eu te esmaguei e agora és um lugar miserável e desprezível, comparado com o que antes foste. Uma vez foste uma pedra, mas te fizeste mármore; eu te tornei pedra novamente, e te humilhei.” Oh, como tem ensinado Deus às monarquias e aos impérios que se estabeleceram como novos reinos celestiais, que Ele é Deus, e não há outro!
E também: como Ele ensinou esta grande verdade aos monarcas! Alguns que foram muito orgulhosos tiveram que aprender de uma maneira mais dura que outros. Vejam, por exemplo, a Nabucodonosor. Sua cabeça mostra uma coroa, e sobre seus ombros leva um manto de púrpura; caminha ao longo da insolente Babilônia, dizendo: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei?” Vocês vêem essa criatura lá no campo? É um homem. “Um homem?” você pergunta; seu cabelo cresceu como penas de águia, e suas unhas são como as das aves; caminha sobre quatro patas, e come pasto como os bois; foi lançado de entre os homens. Esse é o monarca que perguntou: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei?” Mas logo foi restabelecido o palácio da Babilônia, para que pudesse “bendizer ao Altíssimo que pode humilhar aos que andam com soberba.”
Recordem outro monarca. Olhem para Herodes. Ele se senta no meio de seu povo, e fala. Escutam seu ímpio clamor? Eles gritam: “Voz de Deus, e não de homem!” O orgulhoso monarca não glorifica a Deus; se constitui em deus e parece sacudir as esferas celestes, imaginando-se divino. Mas um verme se arrasta para o interior de seu corpo, e outro mais, e outro, e antes que o sol se oculte, é comido pelos vermes. Ah Monarca! Pensaste que eras um deus, e os vermes te comeram! Pensaste que eras mais que homem; e, o que és? Menos que homem, pois os vermes te consomem e és presa da corrupção. Assim humilha Deus ao orgulhoso; assim abate ao poderoso.
Poderíamos dar-lhes exemplos tomados da história moderna; mas a morte de um rei seria mais que suficiente para ensinar esta lição, se os homens quisessem aprendê-la. Quando os reis morrem e são levados à tumba com pompas fúnebres, estamos aprendendo a lição: “Eu sou Deus, e não há outro.” Quando ouvimos sobre revoluções e da queda de impérios; quando vemos que tremem as velhas dinastias e os monarcas de cabelos grisalhos são depostos de seus tronos, então é que Jeová aparece por Seu pé sobre a terra e o mar, e com Sua mão no alto clama: “Ouçam, todos os moradores do mundo! Vocês não são mais que lagostas; ‘Eu sou Deus, e não há outro.”
Além disso, nosso Deus teve que fazer muito para ensinar esta lição aos sábios deste mundo; pois assim como a posição, a pompa, e o poder se colocam no lugar de Deus, também a sabedoria o fez; e um dos piores inimigos da Deidade tem sido sempre a sabedoria do homem. A sabedoria do homem não quer ver a Deus. Professando ser sábios, os homens sábios se converteram em néscios. Mas, acaso não observaram, ao ler a história, como Deus abateu a arrogância da sabedoria? Em épocas remotas, Ele enviou mentes poderosas ao mundo, que idealizaram sistemas de filosofia. “Estes sistemas,” afirmaram eles, “permanecerão para sempre.” Seus alunos os consideraram infalíveis, e, portanto registraram suas expressões em pergaminhos duradouros, dizendo: “Este livro permanecerá para sempre; gerações sucessivas de homens o lerão, e, até o último homem, este livro será transmitido como o compêndio da sabedoria.” “Ah!” disse Deus, “mas esse livro será considerado uma loucura antes que tenham transcorrido outros cem anos.” E assim, os poderosos pensamentos de Sócrates, e a sabedoria de Solom, estão completamente esquecidos agora; e se pudéssemos escutá-las, o menino mais jovem de qualquer de nossas escolas fundamentais, riria ao pensar que entende mais de filosofia do que eles.
Mas quando o homem descobriu a vaidade de um sistema, de imediato seus olhos se deslumbraram diante do seguinte; se Aristóteles não é suficiente, temos a Bacon; se diz a si mesmo: ‘agora saberei tudo’; e se põe a trabalhar, e afirma que esta nova filosofia durará para sempre. Coloca, uma sobre a outra, suas pedras de formosas cores, e pensa que cada verdade que amontoa é uma preciosa verdade não perecível. Mas, ai, chega outro século, e se descobre que é, “madeira, feno, e palha.” Se levanta uma nova seita de filósofos que refutam a seus predecessores. Da mesma maneira temos sábios em nossos dias: sábios segundo o mundo, e pessoas semelhantes, que imaginam que alcançaram a verdade; mas dentro de outros cinquenta anos – e escutem bem minhas palavras – meu cabelo não terá embranquecido ainda, antes que o último indivíduo dessa raça tenha perecido, e esse homem seja considerado um louco por ter sustentado as crenças do grupo.
Os sistemas de infidelidade passam como gotas de orvalho sob o sol; pois Deus diz: “Eu sou Deus, e não há outro.” A Bíblia é a pedra que transformará a filosofia em pó; é o aríete que despedaçará todos os sistemas filosóficos; é a pedra que uma mulher pode lançar sobre a cabeça de cada Abimeleque, e será destruído por completo. Oh, Igreja de Deus, não temas; tu farás maravilhas; os sábios serão confundidos, e tu saberás, e eles também, que Ele é Deus, e não há outro.
“Certamente,” alguém dirá, “a igreja de Deus não necessita que se ensine isto.” Nós respondemos que sim, necessita, pois de todos os seres, aqueles a quem Deus fez objeto de Sua graça, são, talvez, os mais inclinados a esquecerem desta verdade cardinal: que Ele é Deus, e não há outro. Como esqueceu a igreja de Canaã, quando se inclinaram diante de outros deuses, e por essa razão Deus trouxe contra eles reis e príncipes poderosos, e os afligiu mui dolorosamente. Como esqueceu Israel! E Ele os levou cativos à Babilônia. E o que Israel fez em Canaã, e na Babilônia, isso fazemos nós agora. Nós também, com demasiada frequência, esquecemos que Ele é Deus, e não há outro.
Acaso o cristão não sabe o que quero dizer, quando menciono este importante feito? Acaso não fez ele o mesmo alguma vez? Em determinadas épocas a prosperidade o visitou, e suaves brisas impulsionaram seu barco, exatamente ao lugar para onde queria dirigir-se sua indômita vontade; e disse para si: “agora tenho paz, agora sou feliz, agora o objeto que desejava está a meu alcance, agora direi: alma, senta-te e repousa; come, bebe, regozija-te, pois estas coisas te farão contente; converte-as em teu deus; sê próspero e feliz.” Mas, não vimos nosso Deus jogar a taça no chão, derramar o doce vinho e em seu lugar enchê-la de fel? E ao entregar-nos a taça, nos disse: “Bebe, bebe: pensaste encontrar um deus na terra, mas bebe rápido e conhece sua amargura.” Quando bebemos da taça, nos damos conta que o trago é nauseabundo, e exclamamos: “Ah, Deus, não beberei mais estas coisas; Tu és Deus, e não há outro.”
E, ah, quão frequentemente temos traçado esquemas para o futuro, sem pedir permissão a Deus! Os homens disseram como esses loucos que Tiago menciona: “Hoje e amanhã iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos.” Mas eles não sabiam o que seria o amanhã, pois muito antes que viesse a manhã não puderam nem vender nem comprar: a morte os havia reclamado, e um pequeno palmo de terra continha todos seus restos mortais.
Deus ensina Seu povo a cada dia, por meio da enfermidade, da aflição, da depressão espiritual, do abandono de Deus, da perda do Espírito por um tempo, e da falta de alegria em seu rosto: ensina que Ele é Deus, e não há outro. E não devemos esquecer que há alguns servos especiais de Deus, levantados para grandes obras, que devem aprender esta lição de maneira especial. Por exemplo, vejamos um homem chamado à grandiosa obra de pregar o Evangelho. Tem êxito; Deus o ajuda; milhares de pessoas aprendem aos seus pés, e multidões estão pendentes de seus lábios; tão certo como é humano, terá uma tendência a ser exaltado sem medida, e começará a se olhar demasiado, e olhar muito pouco para Deus. Que os homens que conhecem sejam os que falem, e que digam o que sabem; e eles dirão: “é certo, é muito certo.” Se Deus nos dá uma missão especial, geralmente começamos a dar-nos honra e glória a nós mesmos. Mas ao considerar os eminentes santos de Deus, por acaso não se deram conta, como Deus os levou a sentir que Ele é Deus, e não há outro? O pobre Paulo poderia ter se considerado um deus, e poderia ter exultado com sucesso, em razão da grandeza de sua revelação, se não tivesse recebido um aguilhão em sua carne, e os deuses não podiam ter aguilhões em sua carne.
Algumas vezes Deus ensina ao ministro negando-lhe a ajuda em ocasiões especiais. Às vezes subimos ao púlpito, e dizemos: “Oh, que eu tivesse um bom dia hoje!” E começamos a esforçar-nos; temos sido mui ardentes e incansáveis em nossa oração; mas somos semelhantes ao cavalo que tem os olhos vendados para dar voltas no moinho, ou como Sansão com Dalila: sacudimos nossas vãs extremidades com grande surpresa, “apresentamos um débil combate,” e não obtemos nenhuma vitória. Somos conduzidos a ver que o Senhor é Deus, e não há outro.
Mui frequentemente, Deus ensina isto ao ministro levando-o ao ponto de ver sua própria natureza pecaminosa. Terá tal discernimento sobre seu próprio coração perverso e abominável, que sentirá, quando suba ao púlpito, que não merece nem sequer sentar-se em um dos bancos da igreja, e muito menos pregar a seus companheiros. Ainda que sempre sentimos gozo ao declarar a Palavra de Deus, contudo, sabemos o que é vacilar ao subir os degraus do púlpito, sob a sensação que o primeiro entre os pecadores não deveria ter permissão para pregar aos demais.
Ah, amados, não creio que alguém tenha êxito como ministro, se não é levado às profundidades e trevas de sua própria alma, a ponto de ter que exclamar: “A mim, que sou menos que o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios o evangelho das inescrutáveis riquezas de Cristo.”
Há outro antídoto que Deus aplica no caso dos ministros. Se não os trata de maneira pessoal, Ele levanta um exército de inimigos para que se possa ver que Ele é Deus, e somente Deus. Um estimado amigo me enviou ontem um valioso manuscrito de um dos hinos de George Whitefield, que foi cantado em Kennington Common. Trata-se de um esplêndido hino, completamente ao estilo de Whitefield do princípio ao fim. Mostra que sua confiança descansava inteiramente no Senhor, e que Deus estava no seu interior. Como se sujeitaria um homem às calúnias da multidão; como se afanaria e trabalharia cada dia desnecessariamente; como subiria ao púlpito cada domingo para pregar o Evangelho, e se exporia a que seu nome fosse caluniado e difamado, se não tivesse nele a graça de Deus? Quanto a mim, posso dizer que se não fosse porque o amor de Cristo me constrange, este momento seria minha última pregação, no relativo à comodidade de fazê-lo. “Ai de nós se não anunciarmos o evangelho, porque nos é imposta essa obrigação!”
Mas a oposição através da qual Deus conduz a Seus servos, os faz ver de uma vez que Ele é Deus, e não há outro. Se todos aplaudissem, se todos fossem gratificados, pensaríamos que somos Deus; mas quando se burlam e insultam, nos voltamos para nosso Deus, e clamamos:
“Se em meu rosto, por causa de Teu amado nome,
Me açoitam a vergonha e a repreensão,
Aclamarei a repreensão,
e darei as boas-vindas à vergonha,
Sempre e quando Tu te lembres de mim.”
II. Isto nos conduz à segunda parte de nosso sermão. A salvação é a maior obra de Deus; por isso, em Sua maior obra, Ele nos ensina especialmente esta lição: que Ele é Deus, e não há outro. Nosso texto nos informa sobre A MANEIRA NA QUAL ENSINA: Ele diz: “Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os termos da terra.” Ele nos mostra que Ele é Deus, e não há outro, de três maneiras. Primeiro, pela pessoa para quem nos dirige o olhar: “Olhai para mim, e sereis salvos.” Em segundo lugar, pelos meios que nos indica usar para obter misericórdia: “Olhai,” simplesmente “Olhai.” E, em terceiro lugar, pelas pessoas conclamadas a “olhar:” “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.“
1. Em primeiro lugar, a quem Deus nos indica que olhemos para a salvação? Oh, por acaso não se humilha o orgulho do homem, quando escuta que o Senhor diz: “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra?” Não é: “Olhem para seu sacerdote, e sejam salvos:” se o fizessem assim, haveria outro Deus, haveria alguém mais. Não diz: “Olhem para si mesmos:” se assim fosse, então haveria um ser que poderia exigir parte do mérito da salvação. Mas é: “olhai para mim.” Com que frequência vocês que estão vindo a Cristo olham para vocês mesmos. “Oh!,” dirão, “eu não me arrependo o suficiente.” Isso é olhar para si mesmo. “Eu não creio o suficiente.” Isso é olhar para si mesmo. “Eu sou demasiado indigno.” Isso é olhar para si mesmo. “Eu não posso achar,” afirma outro, “que tenha alguma justiça.” É muito correto que digas que não tens nenhuma justiça; mas é muito incorreto que busques alguma justiça em ti. É “Olhai para mim.” Deus quer que apartes teus olhos de ti e que olhes para Ele. O mais difícil do mundo é que o homem aparte o olho de si mesmo; enquanto viva, sempre sente a predileção de voltar seus olhos para dentro de si mesmo; em troca, Deus diz: “Olhai para mim.”
Da Cruz do Calvário, onde as sangrentas mãos de Jesus gotejam misericórdia e do jardim do Getsêmani, onde os sangrentos poros do Salvador suam perdões, sobe o clamor: “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.” Do cume do Calvário, onde Jesus exclamou: “Está consumado,” ouço um grito: “Olhai e sejam salvos.” Mas de nossa alma surge uma vil exclamação: “Não, olha-te a ti mesmo! Olha-te a ti mesmo!” Ah, querido leitor, olha-te a ti mesmo e te condenarás. Essa certamente será tua sorte. Enquanto olhares para ti mesmo, não há esperança para ti. Não é uma consideração do que és, mas uma consideração do que Deus é, e do que Cristo é, o que pode salvar-te. É transferir o olhar de ti para Jesus. Oh, há homens que entendem mal o Evangelho; eles crêem que sua justiça os qualifica para vir a Cristo; mas o pecado é a única qualificação para que um homem venha a Jesus. O bom e velho Sr. Crisp diz: “A justiça me mantém afastado de Cristo: o são não tem necessidade de um médico, mas sim os que estão enfermos; o pecado, quando é reconhecido, me conduz a Cristo, e ao vir a Cristo, quanto mais pecado tenha, maior motivo possuo para esperar misericórdia.”
Davi diz, e por certo é algo surpreendente o que disse: “Perdoarás também meu pecado, que é grande.” Mas, Davi, por que não disseste que era pequeno teu pecado? Porque Davi sabia que quanto maiores seus pecados, maior razão teria para pedir misericórdia. Quanto mais vil é um homem, com maior afinco o convido a crer em Jesus. Como ministros, tudo o que temos que buscar é um sentido de pecado. Nós pregamos para os pecadores; e se sabemos que um homem assume o título de pecador para si, então lhe dizemos: “Olha para Cristo, e serás salvo.” Olhe, isto é tudo o que Ele procura em ti, e também isto Ele te proporciona. Se olhas a ti mesmo, estás condenado; tu és um sem vergonha vil, cheio de coisas repugnantes, corruptas e que corrompem a outros.
Mas olhe aqui! Vês aquele homem pendurado na cruz? Podes contemplar Sua cabeça moribunda inclinada com mansidão sobre Seu peito? Vês essa coroa de espinhos, que faz brotar gotas de sangue que escorrem pelas maçãs de Seu rosto? Vês Suas mãos, traspassadas e rasgadas, e Seus benditos pés, suportando o peso de Seu corpo, partidos quase completamente em dois pelos pregos cruéis? Pecador, podes escutá-lo gritando!?: “Elí, Elí, lamá sabactâni?” Acaso não o escuta clamar: “Está consumado”? Podes ver Sua cabeça inclinada pela morte? Vês esse lado traspassado pela lança, e o corpo baixado da cruz?
Oh, vem aqui! Essas mãos foram cravadas por ti; esses pés verteram sangue por ti; esse lado foi aberto por ti; e se queres saber como podes encontrar misericórdia, ali está! “Olhai!” “Olhai para mim!” Não olhes mais para Moisés. Não olhes mais para o Sinai. Vem aqui e olha para o Calvário, e para a vítima do Calvário, e para o sepulcro de José. E olha para lá, para o homem que junto ao trono se senta com Seu Pai, coroado de luz e de imortalidade. “Olha, pecador,” Ele te diz, o dia de hoje, “Olha-me se sê salvo.” Desta forma, Deus nos ensina que não há ninguém mais; porque Ele nos leva a olhar unicamente para Ele, e a olhar totalmente longe de nós mesmos.
2. O segundo pensamento é: os meios de salvação. É, “Olhai para mim, e sereis salvos.” Vocês devem ter observado frequentemente, estou certo, que muitas pessoas se agradam de uma adoração intrincada, uma religião complicada, que dificilmente podem compreender. Não podem suportar uma adoração tão simples como a nossa. Por isso devem ter um homem vestido de branco, e um homem vestido de negro; logo devem ter o que chamam um altar e um presbitério. Depois de pouco tempo isso já não é suficiente, e devem ter floreiras e velas. Então o clérigo se torna um sacerdote, e deve ter uma veste de cores vivas, mostrando uma grande cruz. E assim sucessivamente: o que é simplesmente uma bandeja se converte em uma patena[3], e o que uma vez foi uma taça se torna um cálice; e quanto mais complicadas são as cerimônias, mais se agradam delas.
Agrada-lhes que seu ministro tenha a posição de um ser superior. O mundo gosta da religião que não pode compreender! Mas acaso nunca observaram quão gloriosamente simples é a Bíblia? Não aceita nenhum dos absurdos de vocês; fala muito claro e somente coisas claras. “Olhai!” Não há nenhum não convertido que goste disto: “Olha para Cristo, e sê salvo.” Não, ele vem a Cristo como Naamã veio a Eliseu; e quando lhe diz: “Vai e lava-te no Jordão!” ele responde: “Eis que eu dizia comigo: Certamente ele sairá, por-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar; mas a ideia de dizer-me que me lave no Jordão, é uma coisa muito ridícula. Qualquer um poderia fazer isso!” Se o profeta houvesse lhe ordenado fazer algo grandioso, por acaso não o teria feito? Ah, certamente teria feito. E se esta manhã eu dissesse que qualquer pessoa que caminhasse daqui a Bath sem sapatos nem meias, ou que fizesse qualquer outra coisa impossível, seria salvo, vocês sairiam para lá amanhã mesmo, depois do desjejum.
Se eu demorasse sete anos para descrever o caminho da salvação, estou certo que todos vocês ansiariam ouvir sobre isso. Se somente um doutor mui letrado pudesse definir o caminho do céu, como todos o seguiriam! E se fosse descrito com palavras difíceis, e com palavras intercaladas tomadas do latim e do grego, seria ainda muito melhor.
Mas o Evangelho que devemos pregar é muito simples. É somente: “Olhai!” “Ah!” dirá alguém, “por acaso isso é o Evangelho? Eu não prestarei atenção a isso.” Mas, por que Deus te ordenou fazer algo tão simples? Precisamente para dobrar teu orgulho, e para mostrar-te que Ele é Deus, e não há outro. Oh, vejam quão simples é o caminho da salvação. É: “Olhai, olhai, olhai!” Cinco letras no total! “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.”
Alguns teólogos necessitam uma semana para dizer-te o que deves fazer para ser salvo: mas Deus, o Espírito Santo, só precisa de cinco letras para fazê-lo. “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.” Quão simples é esse caminho de salvação! E, oh, quão instantâneo! Nos leva algum tempo mover nossa mão, mas um olhar não requer nem um momento. Assim, o pecador crê em um instante; e no momento em que esse pecador crê e confia em seu Deus crucificado para perdão, de imediato recebe a plena salvação através de Seu sangue.
Poderia haver alguém hoje que tenha vindo injustificado em sua consciência, mas que sairá daqui justificado, enquanto que outros não o farão. Pode haver algumas pessoas aqui, que são pessoas imundas em um instante, e perdoadas no seguinte. Tudo é feito em um instante. “Olhai! Olhai! Olhai!” E, quão universal é! Porque em qualquer lugar em que me encontre, sem importar quão longe esteja, simplesmente diz: “Olhai!” Não diz que veremos; só diz: “Olhai!”
Se tratarmos de ver uma coisa na escuridão, não podemos fazê-lo; mas temos feito o que nos disse que fizéssemos. Assim, se um pecador só olha para Jesus, Ele o salvará; pois Jesus na escuridão é tão eficaz como Jesus na luz, e Jesus, quando não podem vê-lo, é tão eficaz como Jesus quando podem vê-lo. Trata-se unicamente de “olhar”!
“Ah!”, alguém dirá, “eu tenho tentando ver a Jesus todo este ano, mas não consegui vê-lo.” Ele não diz que devemos vê-lo, mas “Olha para Ele!” E diz que os que o olharam, foram iluminados. Ainda que haja um obstáculo à tua frente, se unicamente olhas na direção correta, isso é suficiente. “Olhai para mim!” Não se trata tanto de ver a Cristo, mas de olhar para Ele. O querer a Cristo, o desejar a Cristo, o ansiar por Cristo, o confiar em Cristo, o apegar-se a Cristo, isso é o que se necessita. “Olhai! Olhai! Olhai!” Ah, se o homem mordido pela serpente houvesse voltado seus olhos sem visão para a serpente de bronze, ainda que não a houvesse visto, teria recebido a restauração de sua vida. É o olhar e não o ver, o que salva o pecador.
Repetimos isto: como isto humilha o homem! Há um cavalheiro que diz: “Bem, se me houvessem pedido mil libras esterlinas para minha salvação, eu teria considerado a quantia insignificante.” Mas teu ouro e tua prata estão corrompidos; não servem para nada. “Então devo ser salvo da mesma maneira que minha empregada Beatriz?” Sim, exatamente igual; não há um caminho especial de salvação para ti. Isso é para mostrar ao homem que Jeová é Deus, e não há outro. O sábio diz: “se se tratasse de resolver o problema mais maravilhoso, ou descobrir o maior mistério, eu o faria. Não poderia ter eu algum evangelho misterioso? Não poderia crer em alguma religião misteriosa?” Não, se trata de “Olhar!” “Como! Vou ser salvo da mesma maneira que esse colegial saído de um hospício, que não tem nenhuma preparação?” Sim, deve ser, pois não serás salvo de nenhum outro modo.
Outro afirma: “eu tenho sido muito moral e reto; tenho guardado todas as leis do meu país; e se há algo mais que deva fazer, o farei; vou comer somente peixe na sexta-feira, e vou guardar todos os jejuns da igreja, e isso me salvará.” Não senhor, isso não te salvará; tuas boas obras não servem para nada. “Como” Devo ser salvo da mesma maneira que a prostituta ou o bêbado?”. Sim senhor, há somente um caminho de salvação para todos. “Porque Deus sujeitou a todos em desobediência, para ter misericórdia de todos.” Ele ditou uma sentença condenatória para todos, para que pudesse vir a graça imerecida de Deus sobre muitos, para salvação. “Olhai! Olhai! Olhai!”. Este é o simples método de salvação. “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.”
3. Observem como Deus humilhou o orgulho do homem, e Se exaltou a Si mesmo, pelas pessoas chamadas a olhar. “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.” Quando os judeus ouviram que Isaías dizia isso, “ah!”, exclamaram, “deverias ter dito: Olhai para mim, Jerusalém, e sejam salvos. Isso teria sido o correto. Mas esses cães gentis, acaso olharão e serão salvos?” “Sim,” diz Deus, “lhes mostrarei, judeus, que ainda que lhes dei muitos privilégios, exaltarei a outros acima de vocês; Eu posso fazer o que me agrade com o que é meu.”
Agora, quais são os termos da terra? Pois, existem pobres nações pagãs que estão a poucos graus de distância das bestas, que são incivilizadas e incultas; mas se pudesse ir e caminhar pelo deserto, ou encontrasse o selvagem da Austrália em sua choça, ou percorresse os mares do Sul, e encontrasse um canibal, lhe diria a ele ou ao selvagem: “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.” Esses são alguns “dos termos da terra,” e o Evangelho é enviado a eles, tanto como aos cultos gregos, aos romanos refinados ou aos educados britânicos.
Mas eu penso que “os termos da terra” também quer dizer aqueles que se afastaram de Cristo. Refiro-me a ti, ébrio! Foste degradando-te até alcançar os termos da terra; quase sofreste de delirium tremens[4]; não podes ser pior; não há homem que respire que seja pior que tu. Acaso há? Ah!, mas Deus, para dobrar teu orgulho, te diz: “Olha para mim e sê salvo.” Há outra pessoa que viveu uma vida de infâmia e pecado, até destruir-se a si mesma, que até parece que Satanás a varre para tirá-la pela porta traseira; mas Deus lhe diz: “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.“
Parece-me que vejo aqui alguém que treme e que diz: “Ah!, eu não fui um destes, senhor, mas fui pior, pois frequentei a casa de Deus, e me desfiz de convicções, e de todos os pensamentos de Jesus, e agora creio que Ele jamais terá misericórdia de mim.” Tu és um desses “termos da terra!” Enquanto encontre alguém que se sinta assim, posso dizer-lhe que é um dos”termos da terra.” “Mas,” afirma outro, “eu sou tão peculiar; se não sentisse o que sinto, tudo estaria bem; mas sinto que meu caso é muito peculiar.” Isso está bem; são gente mui especial. Mas se olhas, poderás alcançar.
Mas outro diz: “Não há ninguém no mundo como eu; não creio que encontrem um ser debaixo do sol que tenha tido tantos chamamentos e os descartou, e tantos pecados sobre sua cabeça; além do mais, tenho tanta culpa que não gostaria de confessá-la a nenhum ser vivente.” Novamente, ele é um dos “termos da terra;” portanto, tudo o que tenho que fazer é clamar no nome do Senhor, “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra, porque eu sou Deus, e não há outro.”
Mas tu dizes que o pecado não te permitirá olhar. Eu te respondo, teu pecado será tirado de ti no momento em que olhares. “Mas não me atrevo; Ele me condenará; tenho medo de olhar.” Ele te condenará mais, se não olhas. Teme, então, e olha; mas não permitas que teu medo te impeça de olhar. “Mas Ele me lançará fora.” Prova-O. “Mas não posso vê-lO.” Te digo que não é ver, é olhar. “Mas meus olhos estão tão presos à terra, tão terrenais, tão mundanos.” Ah!, pobre alma, Ele dá poder para olhar e viver. Ele diz: “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra.”
Tomem isto, queridos amigos, como texto para o novo ano, tanto vocês que amam ao Senhor, como vocês que estão unicamente olhando por primeira vez. Cristão, em todas tuas aflições deste ano, olha para Deus e sê salvo! Em todas tuas provas e dores olha para Cristo, e encontre salvação. Em toda tua agonia, pobre alma, em todo teu arrependimento por tua culpa, olha para Cristo, e encontra perdão. Este ano lembre-se de voltar teus olhos ao céu, e mantém teu coração orientado ao céu. Recorda hoje que amarraste ao teu redor uma corrente de ouro, e colocaste um de seus elos na argola do céu. Olhem para Cristo e não temam. Não há tropeço quando um homem caminha com seu olhar para o alto, dirigido a Jesus. O que olhava as estrelas caiu na vala; mas quem olha para Cristo caminha com segurança. Mantenham seus olhos no alto, todo o ano. “Olhai para Ele, e sereis salvos,” e recordem que “Ele é Deus, e não há outro.”
E tu, pobre indivíduo que tremes, tu, que dizes? Iniciarás o ano olhando para Ele? Tu sabes quão cheio de pecado te encontras hoje; tu sabes quão imundo és; e, contudo, é possível que antes que te ponhas de pé e chegues ao corredor dessa igreja, estarás tão justificado como os apóstolos o estão diante do trono de Deus. É possível que antes que teu pé pise o umbral da porta de tua casa, tenhas perdido a carga que tuas costas suportou, e prosseguirás teu caminho, cantando:
“fui perdoado, fui perdoado; sou um milagre da graça; hoje é meu aniversário espiritual.”
Oh!, que fosse para muitos de vocês, para que ao fim eu possa dizer: “Eis-me aqui, e os filhos que me deste.” Escuta isto, pecador convicto! “Este pobre clamou a Jeová em sua angústia, e o livrou de todas suas aflições.” Oh!, Provai e vede que o Senhor é bom!
Creiam n’Ele agora; agora deixem que sua alma culpada descanse em Sua justiça; agora submirjam sua alma negra no banho de Seu sangue; agora ponham sua alma desnuda à porta do armário de Sua justiça; agora tragam sua alma faminta à festa da plenitude! Agora “olhem“! Quão simples parece! E, contudo, é a coisa mais difícil que um homem pode fazer. Eles jamais o farão, enquanto a graça nos constrange a fazê-lo. Contudo, ali está: “olhem”! Regressem para suas casas com esse pensamento. “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os termos da terra, porque eu sou Deus, e não há outro.“
ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALFÍVICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA
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FONTE: Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon60.html
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público e com autorização de Allan Roman.
Sermão nº 60 — Volume 2 do The New Park Street Pulpit,
Tradução: Rosangela Cruz
Revisão: Armando Marcos
Capa: Victor Silva
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NOTAS
[1] Dossel é uma construção e armação saliente, forrada de damasco ou de outro estofo, e franjada, que se coloca como ornato sobre altares, tronos, camas, etc. (Dicio.com)
[2] Carro Monstro Destruidor (em inglês, Juggernaut) era uma espécie de carro alegórico gigante que os hindus adoravam como uma das representações de Krishna, e sua procissão causava, pela grande multidão, grandes mortes entre os devotos (Internet)
[3] Patena é uma espécie de prato utilizado pelos católicos nas Missas onde se consagra o pão e o vinho, transubstanciando-os em Corpo e Sangue de Cristo. (Wikipédia)
[4] delirium tremens é uma psicose causada pela abstinência ou suspensão do uso de drogas ou medicamentos freqüentemente associada ao alcoolismo (Wikipédia)