Olhos Abertos – Sermão Nº 1461B

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Sermão pregado

Por Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

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E abriu-lhe Deus os olhos ” Genesis 21:19

Em todo tempo houve uma fonte de água perto de Agar, ainda que ela não a tenha visto. Deus não abriu a terra para fazer que brotassem novas águas, nem mesmo tinha necessidade disso. A fonte já estava lá, mas para todo propósito prático, bem que podia não ter estado onde estava, pois Agar não podia vê-la. A água de seu odre acabou e seu filho estava morrendo de sede, e ela mesma estava a ponto de desfalecer, no entanto, o fresco manancial borbulhava muito perto desse local onde estavam. Era necessário que Agar enxergasse a fonte como era necessário que ela estivesse lá e, portanto, com grande compaixão, o Senhor a conduziu a ver o manancial ou, como o texto expressa, “e abriu-lhe Deus os olhos”.

Isso era pouca coisa comparado com a criação de uma nova fonte, mas nosso Deus realiza coisas bem pequenas bem como coisas muito grandes quando há necessidade delas. O mesmo Deus que divide o Mar Vermelho e faz que o Jordão se detenha, abre os olhos de uma pobre mulher. O mesmo Deus que veio com todos os Seus carros de fogo a Parã e com todos os  Seus santos ao Sinai, e que fez com que o monte fumegasse completamente em Sua presença, é Aquele de quem lemos “e abriu-lhe Deus os olhos”. O infinito Senhor agrada-se em fazer pequenas coisas. Ele enumera as estrelas, mas também conta os cabelos de nossas cabeças. Recordem que o mesmo Deus que modelou a esfera na qual moramos desenha também cada pequena gota de orvalho, e Aquele que faz com que o raio percorra toda a extensão do céu também é o mesmo que dá asas a cada mariposa e guia cada minúsculo peixinho no riacho. Ele preparou um grande peixe para que tragasse Jonas, porém, Ele também preparou um verme para que ferisse a aboboreira. Que condescendente o Senhor é, já que atende cuidadosamente os assuntos menores para Seus filhos, e não só mata o bezerro cevado como também coloca sapatos em seus pés. Algumas vezes coisas que são bem pequenas se convertem em coisas absolutamente necessárias, pois são como dobradiças da história, como eixos nos quais o futuro gira. Frequentemente, o curso inteiro da trajetória de um homem se viu afetado pelo pensamento de um instante. A palavra de uma criança afetou o destino de um império; a expressão ocasional de um orador, assim como os homens falam do azar, elevou alguns povos com uma nova paixão e mudou os tempos e estremeceu os reinos. O Senhor trabalha gloriosamente por meio de agentes, de eventos pequenos e desprezados. Ao abrir os olhos de Agar, Deus assegurou a existência da raça dos ismaelitas, que ainda permanecem até o dia de hoje. Do pequeno provém o grande.

Pode haver aqui algumas pessoas que precisam tão somente de um pouco para serem capacitadas a entrar na vida eterna: só precisam que seus olhos sejam abertos. Que o Senhor lhes conceda esse favor. Ó, que agora lhes indicasse muitas Agares que vejam Sua salvação. Por que as almas sedentas deveriam esperar mais tempo? Tudo está pronto; vocês estão na fronteira da salvação, mas necessitam que seus olhos sejam abertos. Nosso tema nesse momento será a abertura dos olhos, tomando um amplo voo, já que é um tema amplo, e na expectativa que tanto para aqueles que veem como para aqueles que não podem ver lhes venham uma clemente abertura dos olhos espirituais.

I.  Nosso primeiro tópico será que SE NOSSOS OLHOS FOSSEM AINDA MAIS ABERTOS, O RESULTADO SERIA MUITO NOTÁVEL PARA QUALQUER UM DE NÓS. No presente o alcance da nossa visão é limitado. Isso é válido quanto à nossa visão natural ou física tanto quanto à nossa visão mental e quanto à nossa visão espiritual. Em cada caso, uma vez que o alcance da visão é ampliado, descobertas muito notáveis são realizadas. Agradou a Deus abrir os olhos naturais da humanidade por meio da invenção de instrumentos óticos. Que descoberta foi aquela quando pela primeira vez certas peças de cristal foram acomodadas entre si e os homens começaram a se aproximar das estrelas! Que mudança se deu no conhecimento de nossa raça por conta da invenção do telescópio! Quantos pensamentos verdadeiramente devotos, de adoração e reverência intensa, profunda e inefável surgiram no mundo pelo fato que Senhor abriu os olhos dos homens nesse sentido! Quando dirigiu seu telescópio para as nebulosas e descobriu que elas eram inumeráveis estrelas, que hino de louvor deve ter brotado do coração do reverente astrônomo. Que infinito és Tu, Senhor, sobremodo glorioso! Que maravilhas criou! Que Teu nome seja tido em reverência pelos séculos dos séculos.

Igualmente maravilhoso foi o efeito sobre o conhecimento humano quando o microscópio foi inventado. Jamais teríamos imaginado que maravilhas de habilidade e de gosto seriam reveladas pela lupa, e que maravilhas de beleza se achariam comprimidas dentro de um espaço tão pequeno para ser medido. Quem alguma vez imaginou que a asa de uma mariposa exibiria arte, sabedoria e delicadeza das quais jamais a destreza humana seria rival. A mais delicada obra de arte é áspera, crua e tosca quando comparada com o objeto mais comum da natureza; uma é a produção do homem, enquanto que outra é a obra das mãos de Deus. Passem uma tarde observando no microscópio, e se seu coração for reto, vocês desviarão seu olhar da lente para o céu e exclamarão: “grandioso Deus, Tu és tão maravilhoso no pequeno como és no grande, e deve ser louvado tanto pelo pequeno como pelo magnífico”. Enquanto dizemos “grande és, ó Deus, pois Tu fizeste o grande e amplo mar e o leviatã para que brincasse nele”, sentimos que também podemos dizer “grande és, Deus, pois fizeste a gota d’água e a encheu de inumeráveis coisas viventes”.

Nossos olhos físicos, abertos assim por qualquer instrumento, nos revelam estranhas maravilhas e podemos inferir desse fato que a abertura de nossos olhos mentais e espirituais nos revelarão maravilhas equivalentes em outros domínios, incrementando, assim, nossa reverência e nosso amor para com Deus.

Suponham, amados irmãos, que nossos olhos pudessem ser abertos com respeito a todas as coisas que já transcorreram em nossas vidas. Temo-las visto, pois temos viajado através delas; mas estava muito nublado quando eu fui por esse caminho; eu não sei como aconteceu com vocês; até agora temos viajado pela vida como homens que transitam no meio da neblina. Ainda as coisas que nos tocaram de perto e nos afetaram mais, elas mesmas têm estado escondidas, por assim dizer, naquilo que não é luz, mas sim uma escuridão palpável. E agora, se pudéssemos percorrer com nosso olhar toda a longitude de nossa vida inteira: quarenta, cinquenta, sessenta ou setenta anos com nossos olhos abertos, que singular se veria tudo! Que diferente você veria a si mesmo agora, no período da meninice, se a luz de Deus se projetasse nele.

Essas primeiras lutas pela subsistência: as considerávamos duras, mas já começamos a ver quanta disciplina existia nelas e quanto eram necessárias para nós. Essas perdas e cruzes, até mesmo com nossa presente vista parcial, podemos ver em que medida elas foram para nosso bem. Contudo, permanecem na vida algumas coisas singulares que não podemos explicar ainda. Por que o filho favorito foi levado de nós quando todas nossas esperanças se cumpririam nele? Por que o esposo foi cortado quando os filhinhos dependiam tanto dele? Por que a esposa foi cortada quando mais se precisava dos cuidados de uma mãe? Por que a filha caiu enferma repentinamente? Por que nós mesmos nos vimos frustrados no momento do êxito? Se nossos olhos pudessem ser abertos de forma que pudéssemos ver o que teria acontecido se as coisas tivessem acontecido de forma diferente, todos nós daríamos graças a Deus porque nossas vidas foram ordenadas como foram.

Vocês nunca escutaram sobre alguém que se lamentava dolorosamente pela morte de seu filho favorito que, quando dormiu, sonhou que via seu garoto vivo novamente e que contemplou a vida que seu filho teria levado? Era uma vida tal que ele chorou em seu sonho, e ao despertar, bendisse ao Senhor porque seu filho não pode jamais atuar de acordo com aquilo que ele tinha visto em visão; era melhor que estivesse morto mesmo. Não se queixe mais, meu aflito amigo, pois isso que você tinha guardado em seu peito teria a possibilidade de converter-se em uma víbora, e isso que você considera um tesouro teria ardido em seu coração como brasas ao fogo. A providência ordenou todas as coisas sabiamente, e se nossos olhos fossem abertos nos prostraríamos em reverência adoradora e engrandeceríamos ao Deus que fez bem todas as coisas. Nossa visão será fortalecida um dia, de tal forma que veremos o fim desde o começo, e então entenderemos que o Senhor faz com que todas as coisas cooperem para o bem daqueles que O amam.

E agora, suponham novamente que nossos olhos foram abertos quanto ao futuro. Ah, vocês não gostariam de espiar o destino? Provavelmente minha curiosidade é tão grande como a de vocês, mas ainda assim ela está balanceada por outra faculdade, e eu protesto que se eu pudesse observar o amanhã, eu recusaria olhar para lá. Existe um desejo no homem por conhecer quais linhas estão escritas para ele no livro do destino: se elas serão brilhantes ou escuras. Ah meu querido amigo, se seus olhos pudessem ser abertos quanto a tudo que haverá de suceder, o que você faria? Se você fosse sábio e conhecesse seu futuro, você o encomendaria a Deus; encomende-se a Ele ainda que não conheça seu futuro. Se você fosse sábio, desejaria investir esse futuro em Seu serviço se o conhecesse antecipadamente; invista em Seu serviço ainda que seu futuro esteja oculto para você. Se você soubesse o que se passaria, sentiria uma grande necessidade de fé; você não sabe o que acontecerá, mas sua necessidade de fé é precisamente a mesma. Confie em Deus, passe o que passe. Isso é certo: que viver sem ser salvo e sem ser perdoado é uma condição muito perigosa; que Deus os ajude a sair dela imediatamente acudindo apressadamente a Jesus para uma salvação imediata, e que vocês a encontrem no ato. Se vocês conhecessem o futuro, isso poderia fazê-los ociosos, quando deveria fazê-los diligentes; se conhecessem o futuro, isso poderia fazê-los vãos, quando deveriam ser humildes; se conhecessem o futuro, isso poderia desalentá-los, quando deveria fazer que confiassem. De todos os modos, sem saber absolutamente nada a respeito, obedeçam à voz do Espírito Santo que diz: “Encomenda ao SENHOR seu caminho, e confia nele, e ele o fará. Exibirá sua justiça como a luz, e seu direito como o meio-dia”.

Se nossos olhos fossem abertos sobre outro ponto, quanto à existência dos anjos, veríamos maravilhas. Não vamos nos meter em especulações, mas que espetáculo teríamos diante de nós se pudéssemos contemplar de imediato todas as criaturas que nos rodeiam. O profeta na antiguidade orou por um jovem para que seus olhos fossem abertos e imediatamente esse jovem viu cavalos e carros de fogo que estavam ao redor de Eliseu. Assim os anjos circundam o povo de Deus. “O anjo do SENHOR acampa ao redor dos que lhe temem, e os defende”. “A seus anjos o SENHOR mandará sobre ti, que te guardem em todos teus caminhos. Nas mãos te levarão, para que teu pé não tropece em pedra”. “Não são todos espíritos ministradores, enviados para servir em favor daqueles que serão herdeiros da salvação?” Milhões de criaturas espirituais andam nessa terra tanto quando dormimos como quando estamos despertos, e se nós nos acostumássemos mais com esses espíritos puros e estivéssemos mais familiarizados com seu Senhor, sentiríamos maior gratidão por Ele colocar os anjos ao nosso redor. Não tenha medo, pois você não está só, ó filho de Deus; seu Pai sempre conserva sua escolta. O maligno vem para tentar, mas o Senhor colocou Seu anjo sentinela para que mantenha vigilância e evite que algum mal se aproxime de você. Se o Senhor abrisse os olhos de Seus servos grandemente amados para ver quantas dessas inteligências poderosas estão guardando-os silenciosamente, eles cessariam de se queixar de solidão, já que estão rodeados de um ministério que é uma tropa de amigos dispostos.

Além disso, que aconteceria se seus olhos pudessem ser abertos para que olhassem para o céu? Onde o céu está, não sabemos. Não está muito longe. De todos os modos, os glorificados sabem o que fazemos aqui, pois se alegram por um pecador que se arrepende. Evidentemente não toma muito tempo viajar até lá, pois foi ao entardecer quando Jesus disse ao ladrão que nesse mesmo dia estaria com Ele no paraíso, e vocês podem estar certos de que ele esteve ali. Oh, que pudéssemos ver o lugar de glória visível e de pura bem-aventurança tal como o veremos em um instante quando a mensageira do Pai chamada morte nos tire as escamas de nossos olhos, ou melhor, tire essa ótica fraca com a qual vemos entorpecidamente, e permita que nosso espírito nu contemple a realidade das coisas sem esses olhos que são um obstáculo e que somente nos falam sobre sua aparência externa. Oh, que glórias veremos então! Que esplendor que sobrepassa toda a luz do sol! Que música, mais doce que a de harpistas tocando suas harpas! Que glória! Salomão não conheceu nada parecido com isso. Ali está a luz de todas as luzes, o deleite de todos os deleites, o céu dos céus, o sol de nossa alma, nosso tudo em tudo: Jesus no trono! Que bem- aventurança estar com Ele, com Ele pelos séculos dos séculos! Irrompa, tu, manhã eterna! Irrompa agora mesmo! Quisera Deus que, ao menos por uma vez, até que o dia desponte e as sombras fujam, que nossos olhos fossem abertos para ver as glórias do que está mais adiante; então desprezaríamos esse pobre mundo, esqueceríamos suas dores e prazeres, elevaríamo-nos acima de todas as suas influências, e progrediríamos até que nós mesmos fôssemos celestiais. Esperem um pouco, irmãos. Esperem somente um pouco. “Esperem um pouquinho, e não se preocupem”, como a mulher escocesa disse, e vocês contemplarão tudo:

 

“Justo quanto Tu queiras, ó Espírito, diz:

‘Levanta-te, minha amada, e venha comigo!’

Abre-me Tu, porta de ouro

Justo quanto Tu queiras, cedo ou tarde”

 

Até aqui me desviei do texto, porém, agora, em meu segundo tópico, irei regressar a ele.

II. NOSSOS OLHOS PRECISAM SER ABERTOS A RESPEITO DE CERTAS COISAS. As coisas das quais eu já falei são desejáveis em alguma medida, porém, essas que falarei são absolutamente necessárias.

Por exemplo, nossos olhos têm de ser abertos com respeito à salvação divina. O caso de Agar é estranho. Imaginem. Ela está sedenta, e seu garoto está morrendo; seus instintos foram avivados pelo amor a seu filho, e, no entanto, ela não pode ver uma fonte de água próxima dela. Ali está ela! Perto dela! Não a veem? Justo ali. Não pode vê-la enquanto seus olhos não sejam abertos. É algo que está à vista, mas ela não a percebe.

Agora, está é uma representação gráfica da posição de muitos pecadores que estão buscando. Ali está o caminho da salvação, e, se existe algo evidente neste mundo, é esse caminho de vida. O fato de que dois mais dois são quatro não é mais claro que: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo. Olhe para o Filho de Deus e viverá; o que pode ser mais simples do que isso? E, no entanto, jamais alguém entendeu a doutrina de “creia e viva” se Deus não lhe tivesse aberto os olhos. A fonte está ali, porém, a alma sedenta não pode vê-la. Cristo está ali, mas o pecador não pode vê-lo. Ali está a fonte cheia de sangue, mas ele não sabe como se lavar nela. Ali estão as palavras: “Creia e viva”, palavras simples que não necessitam de nenhuma explicação, legíveis à sua própria luz e tão claras que o viajante, ainda que se tratasse de um tonto, poderia compreendê-las. Contudo, enquanto a luz eterna não brilhe sobre os entenebrecidos globos oculares do pecador, ele não pode perceber e não perceberá a verdade que é evidente por si mesma.

De onde vem essa incapacidade de enxergar? Eu suponho que o olhar de Agar estava mais ou menos entenebrecido pela sua dor. Ela estava angustiada, pobre mulher, e, portanto, seu olhar não tinha a claridade normal. Também assim, algumas almas sentem tal dor pelo pecado, tal aflição por terem ofendido a Deus, tal temor pela ira vindoura, que não podem perceber a verdade que os consolaria. O que você tem, pobre alma? Que tem? É bom que você se aflija pelo pecado, mas Cristo veio para tirá-lo. É bom que você se lamente pelo seu estado perdido, mas Cristo veio para lhe salvar, e aí Ele está, justo na sua frente, se você só puder vê-lo.

O que escurecia os olhos de Agar era a incredulidade. Deus lhe tinha aparecido alguns anos antes, vocês se recordarão, quando ela se encontrava em um aperto muito parecido, e lhe deu então uma promessa de que Ele faria do filho que nasceria dela uma grande nação. Ela pode ter refletido que isso não aconteceria jamais a menos que a vida do garoto fosse preservada, e já que ele não poderia viver sem um gole de agua, ela deveria se sentir confiante de que a água estaria disponível. Ela estava sendo incrédula, mas não nos corresponde julgá-la, pois, ai, nós também somos incrédulos. Alma ansiosa, esse é seu caso? Ó, se você pudesse crer! Verdadeiramente você tem uma boa causa. Não deveria ser difícil crer no que Deus diz, pois Ele não pode mentir; porém, ainda assim, a incredulidade entenebrece muitos olhos.

Existem muitos que não podem ver devido à altivez. Quando o grande “eu” agrada ao olho com suas próprias boas obras ou com representações religiosas, é claro que não pode ver o caminho da salvação que é unicamente por Cristo. Pobre pecador, que o Senhor lhe tire essas escamas de seus olhos, pois o “eu” é um grande gerador de escuridão. Não existe nada que retenha mais uma alma na escuridão do que o orgulho de seus próprios poderes. Como eu desejaria expor o Evangelho de tal forma que resgatasse os homens de seu ego. Eu prego o plano de salvação tão claramente como me é possível fazê-lo; uso metáforas muito caseiras. Às vezes, chego a usar o que os mais refinados chamam de expressões vulgares: eu usaria expressões mais vulgares ainda, se mediante elas eu pudesse ajudar uma alma a ver a Cristo. Eu lhe digo que Jesus está perto de você e a seu alcance, e que a salvação está perto, a um passo. Você só tem que confiar no Senhor Jesus Cristo e será salvo. Porém, eu sei que, no fim das contas, se você chegar a ver Cristo é porque o Espírito Santo abriu seus olhos. Eu não posso abri-los, nem ninguém mais pode fazê-lo, pois desde o começo do mundo não se conheceu alguém que tenha aberto os olhos de quem tenha nascido cego. Ó, que o Senhor se agradasse agora em abrir os olhos de cada pecador aqui presente para que veja a salvação no sangue expiatório de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

III. Devo deixar esse ponto e concluir com outro, EM NOSSO PRESENTE CASO É MUITO DESEJÁVEL QUE NOSSOS OLHOS SEJAM ABERTOS. Para muitos isso é imperativamente necessário neste exato momento, pois se essas pessoas não forem restauradas de sua cegueira, elas morrerão em seus pecados. Nessa grande multidão, existem alguns para os quais é preeminentemente desejável que seus olhos sejam abertos de imediato para que vejam qual será o resultado inevitável de seu presente modo de vida, pois sua cegueira é uma grande fonte de perigo para eles. Esse jovem cavalheiro que está gastando seu dinheiro no hipódromo e em uma sociedade licenciosa, eu diria que com somente meio olho ele poderia ver qual será o resultado de sua conduta. O diabo nunca faz com que trens expressos circulem o inferno; não existe necessidade disso, pois você pode ir para lá suficientemente rápido pelas corridas de cavalo. A grama do hipódromo ministrou para muitos um método expresso de arruinar suas fortunas e suas almas. Entre nessa linha de coisas, e em tudo o que isso significa, e em toda sociedade que a acompanha, e seu futuro não precisa de nenhum profeta. Muitos jovens não pensam até que seja muito tarde para pensar. Eu gostaria de colocar uma mão fria sobre essa fronte fervente, deter esse jovem e fazer com que fique quieto e considere a situação. Ó, que o Senhor abra seus olhos. E essa jovem mulher que começou a observar com atenção (não muita, até agora) ao que chamam “festas”. Ah, que o Senhor lhe detenha, minha irmã, e que lhe abra os olhos antes que você dê outro passo, pois um passo a mais poderá ser sua ruína.

E a respeito desse comerciante que começou – não, não começou ainda realmente – mas que está pensando em um tipo de comércio que fará que ele pouse em algo mais vergonhoso que a bancarrota, eu rogo ao Senhor que abra seus olhos para que vocês possam ver as coisas no prisma da verdadeira luz. Vejo diante de mim um homem que está a ponto de cometer um suicídio moral. Ó, que você receba um raio de luz agora mesmo, e um toque desse dedo que pode abrir os olhos cegos. Não posso entrar nas particularidades de cada caso, mas tenho a forte impressão de que estou falando para algum jovem cujo futuro depende que ele faça uma pausa prudente e considere tudo cuidadosamente antes de dar mais um passo; um passo a mais e você cairá. Eu lhe imploro que fique imóvel e ouça o que Deus quer lhe dizer agora. Volte, volte-se de seu pecado e busque seu Senhor agora, e você o encontrará de imediato, e assim fará uma vida honorável e brilhante diante de você para Sua glória. Porém, se você der um passo adiante no caminho que o tentador exerce seu fascínio, ele o seduzirá, tal como a música das sereias, e você estará perdido para sempre. Portanto, que Deus lhe ajude a se deter e que você possa ir embora dizendo “Deus abriu-me os olhos”.

Agora, deixando todos esses temas do pensamento, gostaria de recordar-lhes que vocês estão a ponto de reunir-se à mesa da comunhão e todos nós gostaríamos de sentar ali com olhos abertos. Aqueles que amam ao Senhor não podem suportar sentar-se como cegos em Seu palácio, e anseiam por ter toda visão que a graça possa dar-lhes.

Primeiro, gostaríamos de ter olhos abetos para que possamos ver que Jesus está muito perto de nós. Não pensem sobre Ele nesse momento como se estivesse longe no céu. Ele está lá em Sua gloriosa personalidade, mas Sua presença espiritual está aqui também. Por acaso Ele não disse: “Eis que estou convosco todos os dias”, e “E se eu for… virei outra vez”? Ele permanece conosco por Seu Espírito para sempre; então, vamos, sentemo-nos enquanto esse festejo sacramental está acontecendo, e cantemos:

 

“No meio de nós está nosso Amado,

E nos pede que vejamos Suas mãos traspassadas;

Mostra Seus pés e Seu lado ferido,

Benditos emblemas do Crucificado.

Se agira com olhos contaminados e frágeis,

Vemos os sinais, mas não vemos a Ele,

Ó, que Seu amor faça cair as escamas,

E nos convide a vê-lo face a face!

Nossos antigos arroubos lembramos,

Quando em Sua companhia, no santo monte,

Fizeram que nossas almas tivessem sede novamente,

De ver Seu rosto desfigurado, porém desejável.”

 

Desejamos que vocês possam ter seus olhos abertos para que vejam o que vocês são em Cristo. Vocês se queixam de que são negros em si mesmos; mas pensem que são muito formosos Nele. Vocês se lamentam porque são muito desviados; sim, mas vocês estão apegados Nele. Gemem porque são muito fracos; contudo, vocês são fortes Nele. Um bom homem foi outro dia visitar um pobre menino que estava morrendo, um menino a quem o Senhor ensinou muitas coisas; e o amado pequenino, quando estendia sua mão consumida, dizia: “Tão forte em Cristo”. Dificilmente ele podia levantar um dedo e, no entanto, sabia que sua debilidade estava revestida de poder em Cristo. Nós somos pequenas criaturas insignificantes, mas podemos fazer todas as coisas por meio de Cristo. Somos pobres criaturas insensatas, porém, somos sábios em Cristo. Somos criaturas que não servem para nada; no entanto, somos tão preciosos em Cristo, tão valiosos para Deus em Cristo, a ponto de sermos contatos entre Suas joias e conhecidos como a porção peculiar do Senhor. Somos criaturas pecadoras em nós mesmos, e, no entanto, somos perfeitos em Cristo Jesus e estamos completos Nele. Essas são expressões fortes, mas como são escriturais, são verdadeiramente certas. Que benditos somos em nossa Cabeça do pacto! Que o Senhor abra nossos olhos para enxergar isso.

Por último, querido amigo, que o Senhor abra seus olhos para que veja o que vocês serão Nele. Ah, o que você será em Cristo? Em pouquíssimo tempo estaremos com Ele. Muitos de nossos membros já foram para casa com Jesus, e um irmão muito devoto e diligente em servir ao Mestre, um jovem de quem esperávamos muito, foi arrebatado pela maré baixa enquanto se banhava no mar, mas ele foi para seu repouso, não duvido disso. Amigos maiores também têm ido para Deus em datas muito recentes, regozijando-se por entrarem no gozo do Senhor. Desde agora até a ceia do Senhor no próximo mês, provavelmente alguns de nós teremos partido ao Pai. Que nossos olhos sejam abertos para contemplar pela fé a glória que há de ser revelada logo. Quase poderia fazê-los rir de alegria ao pensar que sua cabeça ostentará uma coroa, essa pobre cabeça de vocês. Já não haverá mais trabalho para esses pobres joelhos doloridos e para esses pés cansados. Esse pobre aposento escassamente mobiliado, essa dura condição, esses meios escassos e esse trabalho esgotador, todas essas coisas serão trocadas por mansões de descanso, por pão de bem-aventuranças, e por mosto de deleite. Vocês conhecem cada uma das pedras do pavimento que se estende daqui até sua casa, pois vocês com muita frequência vêm ao Tabernáculo Metropolitano, mas dentro de pouco de tempo, vocês estarão percorrendo as ruas de ouro até o eterno templo nas alturas. Em vez de ruas barulhentas vocês atravessarão sendas de repouso em meio das canções dos serafins e dos salmos dos redimidos, e isso, talvez, aconteça dentro de um mês. Sim, em menos tempo do que a lua toma para encher sua redondeza vocês estarão onde o Senhor Deus e o Cordeiro são a luz eterna. Alguns de nós estamos mais próximos do céu do que imaginamos. Que nossos corações dancem de alegria diante do simples pensamento de uma felicidade tão próxima. Prossigamos nosso caminho abençoando e engrandecendo Àquele que abriu nossos olhos para ver a glória que Ele tem preparado para aqueles que o amam, que será nossa em breve.

Que Deus os abençoe por causa de Cristo.

PORÇÃO DA ESCRITURA LIDA ANTES DO SERMÃO: GÊNESIS 21: 1-21.

 

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ORE PARA QUE O SENHOR USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER CONHECIMENTO DE JESUS CRISTO PARA SALVAÇÃO DE MUITOS E EDIFICAÇÃO DE SUA IGREJA

FONTE Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon1461b.pdf

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público e com permissão

Sermão nº 1461b—Volume 25 do The Metropolitan Tabernacle Pulpit,

Original em inglês: Eyes Opened

Tradução: Armando Marcos

Revisão: Cibele Cardozo

Capa: Salvio Bhering