Lançai Fora o Medo – Sermão Nº 930

Nº 930

Pregado na noite de domingo de 10 de abril de 1870

Por Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres

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“Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.”

 Isaías 41:10.

Se não houvesse nada no sermão desta noite, irmãos, no texto já haveria o suficiente para satisfazer sua boca com coisas boas, de forma que sua juventude possa ser renovada como a da águia. Que o Espírito Santo estenda a vocês uma mesa no deserto. E que Ele possa dar a vocês o apetite para se alimentar, pela fé, desses manjares reais, os quais, assim como a comida que Daniel e seus companheiros se alimentaram, os tornarão bem favorecidos diante de Deus e dos homens.

Para quem são ditas estas palavras? Pois não devemos tomar da Escritura de Deus mais do que dos tesouros do homem. Não temos mais direito de tomar para nós uma promessa que não nos pertence do que temos de tomar de outro homem sua carteira. Essas palavras foram evidentemente ditas pelo profeta, em nome de Deus, para os escolhidos Dele. Leia o verso oito “Mas tu, ó Israel, servo meu, tu, Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, meu amigo.”

E novamente, no nono verso – “Tu és o meu servo, eu te escolhi.” Então, se você ou eu tivermos de encontrar qualquer coisa que seja graciosa e confortável aqui, ela virá a nós, não nas pisadas do mérito, mas sobre o terreno da Graça Soberana. Não será nossa porque nós escolhemos Cristo, mas porque Ele nos escolheu. Nosso Pai celestial tem nos abençoado com todas as bênçãos espirituais de acordo com a Sua escolha por nós em Cristo Jesus desde antes da fundação do mundo[1]. A escolha eterna é o poço do qual flui toda a nascente da misericórdia. Feliz és tu, minha alma, se a Divina Graça inscreveu seus nomes no livro eterno de Deus! Vocês podem vir a este texto como uma criança que vai à própria mesa de seu pai, e podem tirar dela toda forma de conforto para sustentar seu espírito.

Mas visto que, queridos amigos, eu e vocês não podemos ler a lista secreta do amor eletivo de Deus, nós somos ajudados a julgar se esse texto pertence a nós através de outra descrição. Pois os que são aqui chamados de “escolhidos”, são, no nono verso, também descritos como sendo “chamados”. “Tu, a quem tomei das extremidades da terra, e chamei dos seus cantos mais remotos.” O povo escolhido de Deus do passado foi separado para Ele próprio, e os chamou dentre todo o resto do mundo, e assim são eles agora. Eles são um povo chamado pela Sua Graça especial – com um chamado gracioso ao qual eles não puderam resistir – e eles vieram imediatamente e se declararam do lado do Senhor.

“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou.” (Romanos 8.29,30) Se você é chamado, depende disso você ser escolhido. Eu não quero dizer se você é chamado no senso comum com o chamado universal do Evangelho, pois nesse sentido, “muitos são chamados, mas poucos são escolhidos.” Mas eu quero dizer se você é efetivamente chamado, pessoalmente chamado, chamado pelo Espírito Santo, chamado como Maria foi quando Jesus disse a ela “Maria” – e essa voz graciosa atravessou a sua alma, e ela respondeu, dizendo a ele – “Mestre!”

Você já foi chamado ao ponto de abandonar tudo por Cristo, ou está disposto a fazer isso? Você abandonou seus antigos prazeres e suas antigas companhias? E agora você é um separado, separado para Cristo? Oh, se isso aconteceu, não deixe que nada o impeça de aproveitar as riquezas do meu texto, pois cada frase confortável dele pertence a você!

Ainda, além de nos ajudar a descobrir a quem este texto pertence, note que a pessoa aqui descrita é tida no verso oito como um “servo.” “Tu, ó Israel, servo meu” e no verso nove, “E a quem disse: Tu és o meu servo.” Agora, você é um servo de Deus, querido ouvinte? Um servo não faz a sua própria vontade. Ele logo chegaria ao seu limite se carregasse todos os seus caprichos e todos seus desejos. Ele toma a sua orientação da boca de seu mestre e dos olhos de seu mestre. Você submeteu sua vontade à vontade de Deus? Você não é mais governado por um espírito elevado e orgulhoso que chora, “Quem é o Senhor para que lhe ouça a voz?[2]” Você deseja saber qual é a vontade de Deus, e depois fazer apenas o que Ele propõe a você? Você considera sua maior honra ser chamado um servo de Cristo? É por Ele que você vive? É a sua glória o seu maior objetivo? Se sim, então vocês que estão dispostos a trabalhar podem vir e banquetear sobre o texto, pois cada doce palavra dessas pertencem à vocês, visto que vocês servem ao Senhor Jesus Cristo.

Mais uma palavra para ajudar você a ver se tem direito a essas promessas. Ele diz no verso nove “Eu te escolhi e não te rejeitei.” Agora, alguns de vocês têm professado a fé Cristã há muitos anos. Alguns dos mais jovens dentre nós estamos em Sua casa há vinte anos, e isso é tanto tempo quanto fomos batizados em nome de Cristo. Certamente, meus irmãos, nós sentimos que, a julgar pelo rigor da Lei, merecemos ser separados! E ainda, estando debaixo da Graça, fomos preservados pela salvação do Senhor até agora.

Ainda que bem fracos, estamos prosseguindo. Somos obrigados a confessar “Quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem meus passos” (Sl 73.2). Mas nós temos sido acolhidos mesmo nessas horas. Oh, temos tanto a que ser gratos, e muito em que nos regozijarmos, pois a perseverança é uma grande promessa e grande penhor da salvação final. “Ao vencedor, a coroa da vida.” E a nós, como temos visto até agora, pertencem as promessas do texto. Ele, que guardou vocês, meus irmãos e irmãs, até essa hora, propõe agora que vocês venham e olhem para a melhor parte desse armário e tirem suas jóias e usem-nas. Pois todas elas são todas suas para lhes cobrir, para que vocês adornem cada vez mais a Sua doutrina. Em uma palavra, o texto pertence aos escolhidos de Deus. Aqueles que são Dele por terem sido separados do mundo – que são distinguidos pelo seu serviço prático de Deus – e que permanecem neste serviço. E pela Graça de Deus vão continuar nele mesmo até o final.

Vamos agora ao texto. Eu vou ler novamente. “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” Aqui está, em primeiro lugar, uma doença muito natural – o medo. Aqui está, em segundo lugar, um comando contra o medo – “Não temas”. E há, em terceiro lugar, a promessa de Deus em nos ajudar a superá-lo. E essa promessa é dada de três ou quatro maneiras para que nós possamos expulsar o medo com um chicote de várias correias.

 

I. Primeiramente, nós somos lembrados DE UMA DOENÇA MUITO COMUM ENTRE OS BONS HOMENS – MEDO E DESÂNIMO. Essa doença do medo veio ao coração do homem junto com o pecado. Adão nunca teve medo de Deus, até o dia em que descumpriu o Seu mandamento. Quando o Senhor Deus caminhava no jardim na viração do dia, e Adão ouvia os passos do Todo Poderoso, ele apressava-se para entrar em comunhão com Deus, da mesma forma que uma criança querida fala com um pai amoroso.

Mas no momento em que ele tocou o fruto proibido, ele correu e se escondeu. E quando Deus disse “Onde estás, Adão?” Adão foi todo encolhido e trêmulo, pois ele estava com medo de Deus. É o pecado, a consciência do pecado, que “nos faz a todos covardes.[3]” Apesar de Ele, que nos fez, ser um fogo consumidor, e nós devêssemos sempre ter um temor santo Dele, o medo que causa a escravidão não teria nunca vindo ao nosso espírito se nós não tivéssemos, antes de tudo, transgredido a Sua Lei. O pecado é a mãe do medo que nos atormenta.

E, irmãos, o medo permanece nos homens bons porque o pecado permanece neles. Se eles tivessem atingido a perfeição do amor, isso expulsaria o medo, pois o medo traz tormento. Mas, uma vez que a carne ainda está neles, e os desejos ainda se esforçam para comandar, até o mais santo dos povos de Deus fica, às vezes, aflito com os escárnios do filho da escrava[4]. Ele foi banido, pois ele nunca poderá ser herdeiro com a natureza do livre! Na medida em que a Divina Graça cresce e aumenta em poder, o medo diminui. E quando o pecado é cortado pela raiz e tem seus ramos tirados, então, nem dúvida nem medo irão nos maltratar novamente. Tira-nos dessas casas de barro. De uma vez nos livrará de todo o pecado que nos habita – e nossos espíritos irão buscar a Deus como as faíscas procuram o sol.

Mas até então, desde que por motivo de fraqueza, o pecado prevaleça às vezes, o medo também prevalece, e nós somos tristemente humilhados. O medo, vindo com o pecado, sendo sustentado por ele, logo encontra alimento com o qual vai viver. Deixe que o fiel olhe para dentro de si, e, meus irmãos, ele só precisa fazer isso por um momento para encontrar razões abundantes para se ter medo. “Ah!” diz o Medo, enquanto ele olha para dentro do coração ainda propenso a vaguear “Eu não vou seguir o meu caminho.” “Ah!” diz o Medo, enquanto ele olha para o pecado, “Eu vou tropeçar. Eu não vou perseverar até o fim.”

A Graça está ali, é verdade, mas o Medo cega a melhor natureza, e fixa seu olhar somente no corpo dessa morte. Olhar para a velha natureza raramente é uma operação prazerosa, especialmente se esquecermos que ela foi crucificada com Cristo. Eu suponho que, se qualquer um de nós pudesse ver o seu próprio coração da maneira como ele realmente é, ele enlouqueceria. Mas a Fé olha para todas as ruínas da Queda e acredita que o sangue de Cristo trará a vitória. Ela canta o seu poema do triunfo mesmo quando a luta está feroz, regozijando-se com o Apóstolo, pois “Onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor.[5]

Mas o Medo diz, “Eu um dia cairei nas mãos do inimigo. Um barco tão fraco como o meu nunca vai conter a enchente e resistir à tempestade, mas sim sofrer um naufrágio no fim de tudo.” E depois, meus irmãos, se o Medo encontrar alimento dentro, logo irá encontrar alimento fora. Às vezes é pobreza, às vezes é doença, às vezes é a recordação do passado e, tão frequentemente, temor do futuro. Até aqueles que têm fé em Deus podem ocasionalmente ser fracos o bastante para ter medo e desanimarem diante de circunstâncias comuns às quais deveriam ser indiferentes, ou deveriam superar por meio da fé.

Pessoas esmorecidas podem encontrar motivos para ter medo onde eles não existem. Certas pessoas são habilidosas na pesarosa capacidade de inventar problemas. Se o Senhor não as mandou nenhuma provação, elas criam uma para si mesmas. Elas têm uma pequena fábrica de problemas em casa, e elas sentam e usam sua imaginação para meditar no terror. Elas tecem um saco e juntam cinzas. Elas sabem que vão falir – teve um pequeno prejuízo em seus negócios na semana passada. Eles acreditam que logo estarão velhos demais para o trabalho – é verdade, eles estão mais velhos do que um mês atrás. Eles têm certeza de que vão morrer no hospício – é claro que eles vão morrer em algum lugar.

Elas têm certeza sobre essa coisa terrível e, por isso, se afligem de acordo. Nenhuma dessas coisas lhes aconteceu ainda, e no julgamento dos outros, elas estão mais longe de acontecer agora do que jamais estiveram. Mas elas ainda convertem suas suspeitas em realidades e torturam a si mesmas com elas, apesar de serem apenas fantasia. Oh, é muito triste rebaixarmo-nos a isto –

 

“Porventura poderiam as pequenas nuvens finas desta vida passageira

Apagar a luz do Amor Imutável?

Poderiam as névoas sem substância dos cuidados terrenais

Ocultar dos santos os montes eternos

Dos quais seu rápido socorro deve descender?

Oh, a vergonha, e o pecado mais fundamental, que os herdeiros do Céu

Enriquecidos com toda a plenitude do Senhor,

Devam temer, vaporizar, e desgastar suas almas

Com sonhos infantis de males que nunca virão;

Ou vindo, devem vir carregados de bens!”

Em certos casos, o hábito de ter medo alcançou um crescimento monstruoso. Realmente, eu conheço algumas pessoas que pensam que a coisa certa a fazer é sempre ter medo, e desconfiam de um homem que tenha uma fé forte. Eles até chamam a certeza “presunção” e se assombram que alguém possa ter confiança em Deus. Mas se ao menos eles soubessem, há mais presunção na incredulidade do que pode haver na fé. É uma presunção grosseira por parte de uma criança desacreditar nas palavras de seu pai. Não há nenhuma presunção na confiança de uma criança naquilo que seu pai a diz. Ela está apenas cumprindo o seu dever. Para mim, aceitar as promessas puras de um Deus fiel e, a despeito de minha indignidade, ainda assim acreditar nelas é humildade.

Mas para eu tomar essa promessa dos lábios de meu Pai, e começar a contestá-la, e a questioná-la, nada melhor que o orgulho tentando esconder a sua nudez com a mais fina gaze de modéstia fingida. Afastem-se, Eu rogo-vos, da incredulidade que imita a humildade, e busquem essa fé inabalável, a qual é a verdadeira mansidão aos olhos de Deus!

Ainda, eu não culparia todos aqueles que são muito dados ao medo, pois em alguns casos, melhor é o problema deles do que o pecado deles, e melhor a desventura do que a falha. O senhor Mente-Fraca nunca se tornará um Coração-Grande, mesmo se você alimentá-lo com o mais fino trigo. O senhor Pronto-Para-Parar nunca será tão firme, ou correrá tão agilmente quanto o senhor Valente-da-Verdade – faça o que quiser com ele. Há algumas pessoas na família de Deus que são constitucionalmente fracas, e provavelmente nunca irão superar essa fraqueza até entrarem em descanso. Eu faria qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para encorajar os amedrontados a se levantarem contra suas fraquezas. Eu até daria apenas o suficiente do tônico da repreensão para fazê-los sentir que não é certo desacreditar, mas eu não gostaria de censurar tão severamente seu desânimo a ponto de fazê-los pensar que não são do povo de Deus.

Eu digo a vocês, senhores, eu preferiria que vocês fossem ao Céu rastejando de quatro, com nenhuma canção em suas bocas, que ir ao Inferno presumindo. É melhor ser um cordeiro de perna quebrada no coração de Cristo, do que ser o mais forte bode no rebanho de Satanás. Deus nos livra de sermos fortes e poderosos em nós mesmos. Mas ao mesmo tempo há vários males ligados ao medo, e cada filho de Deus deveria estar em guarda para expulsá-los. Em todo caso, muito pode ser feito, despertando-nos a clamar ao Forte a força para superar nossa descrença. A tristeza não precisa ser perpétua em nós.

Eu sei que dizem que algumas plantas de Deus crescem melhor nas sombras. Eu acredito que elas conseguem crescer, mas eu gostaria de testá-las um pouco sob a luz do sol e ver se elas não cresceriam melhor dessa forma do que o seu melhor já tenha sido até agora. Há flores preciosas da Graça as quais são regadas constantemente pelas lágrimas do sofrimento, mas parece-me que o orvalho da consolação alcançaria este propósito da mesma forma. Que o Senhor possa visitá-las, e trazê-las para fora da terrível cova e do terrível lodo. Que elas tenham bom ânimo, pois o Senhor diz a elas –

“Não temas. Não te assombres.”

Que se relembre, antes de terminarmos este ponto, que até os mais fortes dos servos de Deus estão sujeitos ao medo. Davi era um homem muito forte, e ele derrubou Golias. Mas nós lemos que em uma ocasião, quando ele estava na batalha: “ficando Davi mui fatigado.[6]” Então, às vezes, os mais dignos dos heróis do Senhor têm seus momentos de fraqueza. Nós costumávamos falar do nosso “Duque de Ferro” e havia um homem nas Escrituras que era um Profeta de Ferro, e este era Elias, o tesbita, e ainda assim ele se assentou debaixo do zimbro, e clamou: “Basta; toma agora, ó Senhor, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais.[7]

Os melhores dos homens são apenas homens na melhor das hipóteses, e os mais fortes dos homens são fracos se a mão poderosa de Deus é afastada por um tempo. Alguns dos meus queridos amigos vão ocasionalmente me dizer, “Nós sofremos com dúvidas, medos, e problemas, dos quais você não faz idéia.” Eles supõem que seu pastor, e outras pessoas que eles amam e respeitam, nunca experimentaram suas enfermidades. Eu gostaria que fosse assim. Temos algo melhor para falar do que nossas próprias tolices. Nós não nos sentimos obrigados a tornar o púlpito um confessionário público, e todas as experiências não precisam ser publicadas amplamente. Mas, por tudo isso, permitam-me dizer que há vezes em que o mais corajoso e o mais forte dariam tudo que têm pelo menos pela menor evidência possível da Graça Divina. Eles se considerariam felizes por poderem rastejar aos pés da Cruz e dizer “Deus, sê propício a mim, pecador![8]

Eu não digo isso para incentivar ninguém a ter medo, pois, deixe-me apenas apresentar a vocês o oposto. Não há razão para isso, se vivêssemos mais perto de Deus e andássemos com mais cuidado, nós não deveríamos, via de regra, viver com todo esse medo e esse desânimo. Uma vez eu me encontrei com um querido irmão em Cristo, que está agora na Glória, sobre cuja sinceridade eu nunca tive dúvidas. Ele me disse que no período de trinta anos, ele nunca teve uma dúvida sequer a respeito de seu interesse por Jesus Cristo. Quando eu o ouvi dizer isso, pensei ser uma circunstância um tanto incomum, mas agora eu louvo a Deus por ter me encontrado com vários “santos que há na terra […] em quem está todo o meu prazer.[9]

Seu testemunho é o mesmo – que apesar deles terem sido abalados, nunca foram tirados de seu forte apego em Cristo. Embora eles possam ter tido alguns momentos de vacilo – ainda assim eles nunca ficaram desanimados a ponto de questionarem sua parte em Jesus. Eles se seguraram, e cantaram ano após ano, “Firme está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme; cantarei e entoarei louvores.[10]” Eu vejo isso como objeto de ambição de todo o Crente no Senhor Jesus. Experimente e veja se você não pode livrar sua boca de todas as coisas amargas que o fazem cantar tantas vezes e tão tristemente –

“É um ponto que eu desejo conhecer.”

Há uma música muito boa para crianças cristãs, um hino geralmente cantado por questionadores. Mas ah! Que vocês possam ir além dessa cantiga juvenil, e aprender a cantar músicas mais próprias, como esta –

“Agora eu encontrei o chão, onde

Com certeza a âncora da minha alma pode permanecer –

As feridas de Jesus, por meu pecado

Morto antes da fundação do mundo.

Cuja misericórdia permanecerá inabalável,

Quando o Céu e a Terra desaparecerem.

Oh, amor! Seu abismo sem fundo!

Meus pecados são tragados em Ti;

Coberta é a minha iniqüidade,

Nem uma mancha de culpa permanece em mim

Enquanto o sangue de Jesus através da terra e dos céus,

Misericórdia, livre, infinita misericórdia chove!

Com fé eu mergulho neste mar –

Aqui está a minha esperança, minha alegria, meu descanso!

Mais perto, quando o inferno atacar, eu fugirei,

Eu olho para o peito de meu Salvador;

Vá embora, triste dúvida, medo ansioso!

Misericórdia é tudo que está escrito lá.”

II. Vamos nos ocupar um pouco agora em considerar o MANDAMENTO DE DEUS CONTRA O MEDO. “Não temas. Não te assombres.” Este preceito é absoluto e indistinto – não devemos temer. Ele não diz “Tema bastante, mas não além disso,” mas Ele dá uma exortação ilimitada, “Não temas.” Ele não diz “Não temas com tanta freqüência,” mas, “Não temas.” É uma exortação sem tempo determinado, e por isso vale para todos os tempos. “Não temas.” Não temas mesmo. “Não te  assombres.” Ele não diz “Não te assombres totalmente.” Não há advérbio qualificativo, mas isso significa “Não te assombres por nada.” Este mandamento, então, repreende o medo e proíbe o desânimo.

Por que os filhos de Deus não devem ter medo? Há várias razões que justificam o mandamento de Deus. Vamos meditar em algumas delas. Primeiro, meus Irmãos, nós não devemos temer porque é pecaminoso. É comumente pecaminoso ter medo ou desânimo porque tal estado de espírito quase sempre é resultado da incredulidade. Vocês já pensaram em quão grande pecado é a incredulidade? Não, nós falamos sobre isso, e confessamos, mas nós não consideramos suficientemente a hediondez desse pecado. Vamos confessar a descrença em Deus sem vergonha, e ainda assim nada nos faria reconhecer a desonestidade do homem. Eu lhes pergunto, irmãos, qual das duas faltas é a maior? Não é a incredulidade um forte ataque a Deus, um crime de traição contra Ele?

Se eu estivesse conversando com qualquer um de vocês, e você me dissesse “Senhor, eu não acredito em você,” nada que você dissesse poderia me magoar mais do que isso. É algo muito forte dizer a qualquer um “eu não acredito em você.” Se houvesse dois dos mais baixos homens ou mulheres brigando na rua, e um deles dissesse ao outro “eu não acredito em uma palavra que você diz,” o mais lamentável dos dois sentiria o insulto. Todo homem de confiança sente que tem o direito de ser acreditado. Ele fala com a honra de um homem honesto, e se você diz “eu não acredito em você,” e até começa a lamentar que você não tem nenhuma fé nele, esse reflexo não atinge você, mas sim a pessoa em quem você não consegue acreditar.

E poderia acontecer isso, dos próprios filhos de Deus dizerem que não acreditam Nele? Oh, é o pecado dos pecados! Isso tira toda a divindade de Deus, pois se Ele não é sincero, Ele não é Deus. E se não é próprio acreditar nele, nem Ele deve ser adorado – você não pode adorar um Deus em quem você não confia. Oh, traidor deicida, você peca por não acreditar! Oh, pecado assassino de Deus! Que possamos nos livrar dele, e não o achemos leve ou insignificante, mas tiremos ele de nós assim como Paulo lançou a víbora ao fogo.

Dúvidas e medos também geram pecado. Foi dito que Jeroboão pecou, e fez com que Israel pecasse – assim é a descrença. Ela traz centenas de outros pecados em suas costas. O homem que acredita em Deus lutará contra a tentação, mas o homem que não acredita Nele cairá em qualquer cilada. Veja certo comerciante – ele encontra-se em dificuldade por conta de problemas nos negócios. Ele acredita em Deus, e diz “Eu acredito que Deus me sustentará nessa jornada se eu me mantiver na linha reta da integridade. Eu confio em Deus, e venha o que vier, não vou penhorar a minha reputação.” Então, aconteça o que acontecer, o caráter desse homem está a salvo, pois sua fé está firme.

Mas há outro homem. Ele diz “Bem, eu estou passando por uma situação muito embaraçosa, e eu devo olhar para a melhor oportunidade. Não tenho certeza se Deus estará comigo. Tenho que me ajudar, pois eu provavelmente posso me arruinar.” Esse homem vai se prender a um desses atalhos dos negócios através dos quais os homens ganham dinheiro. Não preciso dizer a vocês o que esses atalhos são, pois eu me atrevo a dizer que a maioria de vocês os conhece, seja por usá-los vocês mesmos, ou sendo utilizados contra vocês. Eles são parte e uma parcela da arte de roubar dinheiro dos outros – sem que sejam presos como ladrões.

Bem, ele avalia para ele mesmo um desses esquemas – é claro que ele faz isso – ele que não tem nenhuma fé, garante-se de ter muita habilidade. Ele que não consegue confiar em Deus logo começa a confiar no diabo, e ele, que começa a confiar no diabo, encontra-se na lama. A fé é o que segura o homem, da mesma forma que uma grande âncora segura um navio quando batem os ventos. Acreditar que Deus não falhará com você o ajuda a desafiar a tentação. Agora veja como o homem de fé derrota o diabo! Ali está o diabo. Ele diz “Se você me servir, eu lhe darei …” “Bem, o que você me dará?” “Eu te darei o mundo inteiro.” “Mas eu já possuo isso, pois esse mundo já é meu, me foi dado em Cristo, e tudo quanto tiver de bom nele sempre terei.”

“Certo, mas eu o tornarei grande.” “Eu não quero ser grande, meu prazer é fazer Cristo crescer, e minha grandeza está Nele.” “Mas eu te darei a prata.” “Ah, então!”, diz o Cristão, “Coloque aí no chão.” Tão logo o monte é espalhado, o Crente cobre tudo com dez vezes esse peso em ouro, e assim ri do demônio com escárnio. Eu quero dizer que para cada bem-aventurança que o pecado poderia trazer, a Graça Divina traz uma benção dez vezes maior – e assim a fé dá um xeque-mate em Satã – e a tentação vai embora. A descrença não tem esse poder, mas prontamente se joga nos dentes do leão. Portanto, não temam, senão que na hora da provação vocês sejam vencidos com tentações e corram para o pecado.

Não temam, mais uma vez, pois isso machuca vocês. Nada pode te enfraquecer tanto, nada pode te deixar tão infeliz quanto ser uma pessoa desconfiada. E isso não é pouca coisa, pois a alegria Cristã é fruto do Espírito, e quem a faz definhar, está roubando o Senhor da glória. Não está escrito “Regozijai-vos sempre”[11]? O medo enfraquece a influência do Crente, e isso prejudica os outros. Convertidos não são trazidos a Cristo por cristãos que não crêem. É a fé que ganha almas. Deixe-me dar um exemplo disto.  Há uma boa mulher ali que perdeu o seu filho, seu único filho. Quando o seu marido viu o querido filho morrer, ele ficou excessivamente furioso com Deus, e disse várias coisas duras e amargas, mas sua mulher não. Ele amou a criança tão ternamente quanto o pai o fez, mas ela deitou-se e disse “O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!”[12] Mulher de bem, seu marido não disse nada, mas ele notou a diferença entre ele e você, e quem poderá dizer que bons resultados virão a seguir?

Agora, se um Cristão professo passando por uma provação age exatamente como um mundano, o homem do mundo toma lugar e diz “Não há nada na religião.” Mas, se no tempo da dificuldade, da aflição, da perda, a fé do homem Cristão o deixa feliz, resignado, contente com a vontade do Senhor – ora, até as mais grosseiras das mentes ímpias vêem o poder da Graça Divina! E isso pode os levar a refletir, e se perguntarem “Se há Graça como esta no mundo, por que eu não deveria tê-la?” e talvez eles a busquem e encontrem. Oh, por amor a você, por amor aos seus vizinhos, por amor à Igreja, por amor ao mundo, por amor a Cristo, por amor a Deus – não temam – nem se desanimem!

 

III. O tempo me impede de continuar nisso, e agora eu devo chegar ao coração e alma do texto – AS PROMESSAS QUE DEUS DÁ PARA PREVENIR O MEDO E O DESÂNIMO. Neste verso, você encontra cinco vezes algumas formas do pronome “tu”, e cinco vezes o pronome “eu”. O que quer que haja vosso, deve haver ainda mais de Deus. O tanto que houver de sua fraqueza, deverá existir muito mais da força de Deus. Qualquer que seja a quantidade do seu pecado, deverá existir muito mais da misericórdia de Deus. Que o Espírito Santo revele aos seus corações toda a grandeza deste maravilhoso verso!

“Não temas, porque eu sou contigo.” Muitas vezes o homem teme, por ter medo da solidão. Não raro temos que estar sozinhos no serviço de Deus. A companhia cristã é um grande conforto, mas se um homem se torna um líder em Israel, ele se torna um espírito solitário em certo grau. Da mesma maneira, no sofrimento, há uma amargura com a qual nenhum estranho pode mediar. Uma parte da estrada para o Céu todo homem deve enfrentar sem nenhuma companhia, a não ser seu Deus. Eu sei que alguns de vocês estão envelhecendo, e seus amigos morreram um por um, e você deve estar pensando “Eu vou ficar muito sozinho.”

Outros de vocês vieram a Londres de um vilarejo no qual costumavam ter muitos amigos cristãos. E não há lugar tão desolado quanto esta terrível Londres. Quando um homem passa por ruas cheias, e não encontra amigo entre os milhões de transeuntes que estão de lá para cá, eu sei bem qual é o seu pensamento. Ou talvez você esteja indo aos Estados Unidos, ou Canadá, ou Austrália, e o seu pensamento agora é :  “Eu não consigo suportar estar separado de todos que eu amo.” Agora, aqui está esta preciosa palavra para você, “Não temas, porque eu sou contigo.”

O Senhor dos exércitos é a melhor das companhias. Sua sociedade é o deleite dos anjos, e a felicidade dos espíritos glorificados. Seja grato, ó crente, por não estar sozinho. O Pai está com você, o Filho está com você, o Espírito Santo está com você, e o que isto significa? Significa que a Onipotência estará com você para ser a sua força! A Onisciência estará com você para ser a sua sabedoria! A imutabilidade estará com você para ser o seu auxílio – todos os atributos de Deus estarão com você para ser o seu tesouro. “Não temas, porque eu sou contigo.”

Outro medo atinge os homens, e consiste em se perder tudo que se tem no mundo. E eles sabem muito bem que se eles perderem suas propriedades, perderão seus amigos. Tal qual as andorinhas que chegam à primavera – e vão embora quando o verão termina – são os nossos amigos do mundo. Quando nossos bens vão embora, eles vão embora. Mas aí vem a segunda promessa “Não te assombres, porque eu sou o teu Deus.” As aboboreiras de Jonas secaram, mas o Deus de Jonas não. Seus bens podem ir embora, mas o seu Deus não. Aqueles à sua volta podem roubar do seu dinheiro desperdiçado de conforto presente, mas o seu capital investido, o seu Deus, eles não podem tirar de você.

Essa foi uma doce palavra de um filho ao ver sua mãe mês após mês em suas roupas de viúva, sentada e chorando, porque seu marido morrera. “Mãe,” ele disse, “Deus está morto?” Ah, se nosso Deus estivesse morto, nós seríamos tristes órfãos! Mas enquanto soar o Livro precioso, e entrar em nossos corações através do Espírito Santo, “Não te assombres, porque eu sou o teu Deus,” não teremos chegado à pobreza absoluta ainda.

“Veja,” disse o embaixador da França para o embaixador da Espanha enquanto ele o levava até o tesouro do rei da França, “Olhe para o ouro do meu mestre! Veja como ele é rico!” O embaixador espanhol tomou sua bengala e começou a empurrá-la dentro dos sacos de dinheiro. “Por que você está fazendo isso,” disse o embaixador francês. “Eu quero ver se tem um fundo neles,” disse o espanhol. “Oh,” disse o embaixador francês, “é claro que tem um fundo.” “Ah!” disse o espanhol, “mas o tesouro do meu mestre não tem fundo, pois ele possui todas as minas do México e do Peru.” Agora, o que o espanhol disse com ostentação, nós devemos dizer com sinceridade. O tesouro do nosso Deus não tem um fundo, não tem profundidade. E enquanto você puder ouvir Deus dizer a você “Eu sou o seu Deus,” você pode rir da miséria e da angústia, da destruição e da fome. Para você, não faltará nenhuma coisa boa. Você será satisfeito, como com tutano e gordura, e a sua boca O louvará com lábios alegres.

Outro medo que todo homem bom tem por vezes, a menos que ele seja sustentado pela fé, vem por um senso de fraqueza pessoal. “Eu tenho uma batalha para lutar, mas sou muito fraco. Eu tenho um trabalho para fazer para Deus antes de morrer, mas eu não tenho poder suficiente para fazê-lo.” Agora, vem a próxima palavra do texto, “Eu te fortaleço.” A força com a qual eu preciso realizar meu trabalho não está em mim. Se estivesse, terminaria em mim. Eu sei, com tristeza, quão pequena força existe nesses braços. Mas não existe nenhum homem na Terra que possa me dizer quanta força Deus colocará, se assim Ele quiser, nestes mesmos braços! Se Ele quisesse, poderia permitir que eu, um pobre, fraco e vacilante homem, derribasse os portões de Gaza, assim como fez Sansão no passado!

Ele pode colocar a força de um gigante nos braços de uma criança, se assim Ele quiser. Mas, meus irmãos, transfiram essa figura para força espiritual. Você tem o mandamento de Deus para pregar. Ah, seria apenas uma pregação pobre, se você a fizesse sozinho. Mas nenhuma língua pode dizer como Deus o fará pregar se Ele se agradar em ajudá-lo. Você tem que dar aulas a um grande grupo de garotas e garotos, ou de jovens homens e mulheres, e você sente que não vai conseguir. É claro, sem a ajuda Dele você não vai, mas vá e tente! Pois Ele disse “Eu te fortaleço.”

Havia um arbusto no deserto, nada de mais para se ver, nada a não ser um arbusto. Mas, ah, como ele brilhou em esplendor quando Deus veio até ele, e ele entrou em chamas e, ainda assim, não foi consumido! Deus pode vir a você, meu irmão, e a você, minha irmã, e fazer você brilhar em glória como o arbusto em Horebe. Ele pode tornar você tão forte, que poderá suportar qualquer coisa. Ele tem feito isso até agora. Se alguém tivesse dito a você, anos atrás, que você teria passado pelo seu último problema, você poderia ter dito “Eu nunca poderei suportar isto.” Mas você suportou. “Ah,” a sua descrença teria dito “esta será a minha morte.” Mas esta não foi a tua morte. Você pode neste momento falar do Deus da viúva. Você pode cantar a Ele, que fortalece o fraco contra o forte, Ele que liberta aqueles que estão prestes a perecer, e faz o coração fraco cantar de alegria!

Agora, aqui vai uma palavra para os trabalhadores tímidos e fracos de Deus. “Eu te fortaleço.” Depois vem a próxima promessa consoladora, “E te ajudo.” Esta destina-se a contradizer o receio de que o socorro amigável falhará. Há algumas pessoas que dizem, “Eu acredito que Deus pode me fortalecer pessoalmente, mas eu preciso ter à minha volta alguns para me ajudarem. Eu desejo ver crescerem na Igreja de Deus outros ministros, outros trabalhadores Cristãos. Eu quero ter alguns ao meu lado que irão, com a mesma seriedade, e com maior talento, lutar pela verdade.”

Reparem, pois, nesta palavra, “Eu te ajudo”. Eu não vou apenas dar força a vocês para lutarem sozinhos, mas eu vou colocar a Minha força também em outros homens e em Minha providência para ajudar você. Bem, você sabe o quão decisiva é a ajuda de Deus. Eu já contei a vocês uma história que eu ouvi de um pastor, mas eu vou contar novamente. Ele disse que um dia estava levando os seus livros pela escada para outro quarto, pois ele faria o seu estudo no primeiro andar, e não no térreo, e seu filho pequeno queria ajudar o pai a carregar alguns dos livros. “Agora,” disse o pai, “Eu sabia que ele não podia fazer isso, mas como ele queria fazer alguma coisa, para alegrá-lo e encorajá-lo na sua tarefa, eu disse para ele pegar um livro e levá-lo para cima.”

E lá foi ele, e pegou um dos maiores livros – “Caryl sobre Jó[13] ou Poli Synopsis”, eu acho – e quando ele subiu um ou dois degraus da escada, sentou e começou a chorar. Ele não agüentava mais carregar aquele livro pesado. Ele estava desapontado e triste. Como isso terminou? Bem, o pai teve que ir ao resgate, e carregar tanto o livro grande, quanto o pequeno homem. Então, quando o Senhor nos dá um trabalho para fazer, nós ficamos felizes em fazê-lo. Mas nossa força não é suficiente ao trabalho, e então nós sentamos e choramos – e leva a isto – que nosso Pai bendito leva adiante o trabalho – e o pequeno homem também! E então está tudo feito, e feito gloriosamente. É uma ilustração simples, mas que confortará alguns corações desapontados.

“E te ajudo.”

A última palavra do texto é, “E te sustento com a minha destra fiel.” Vários dos filhos de Deus têm o medo de um dia desonrarem a Cruz de Cristo, e num momento de desatenção escorregar. Esse é um medo muito natural, e em alguns aspectos, um medo muito apropriado.

“Ah, Senhor, com um coração feito o meu,

A menos que Tu me segure firme,

Eu sinto que devo, vou cair,

E perecer no final.”

 

Nós achamos que a tentação só quer nos pegar no nosso ponto fraco, e depois acabar conosco. Mas agora, novamente, eu peço para que vocês se agarrem a esta Palavra preciosa, “Te sustento com a minha destra fiel.” É a mesma mão que segura às estrelas em seu lugar. É a mão que segura o arco do Céu sem colunas, que sustenta ambos mar e terra. Ela não poderia segurar você?

Descanse nisso, e você não será lançado fora! A Sua destra fiel é a mesma mão que nós tínhamos razões para temer, com a qual nosso Rei ofendido poderia nos ferir, pois nós merecíamos justamente a Sua ira. Mas desde que a mão de Cristo foi trespassada, a mão direita de Deus nunca feriu um Crente, a fim de destruí-lo. Essa mesma mão que deveria ter nos esmagado, está agora debaixo de nós para nos sustentar em todas as nossas aflições.

Eu queria poder ter cortado as asas do tempo nessa última meia-hora, para que nós pudéssemos nos alimentar por muito mais tempo nessas ricas pastagens. Mas, queridos amigos, eu dou as palavras do texto para que vocês as levem com vocês. Aqui vocês possuem manás com mel, iguais os que Israel alimentou-se no deserto. Aqui vocês têm a comida dos anjos – não, o verdadeiro Pão da Vida está nessas palavras escolhidas. O único medo que eu tenho é que alguns de vocês o percam por descrença. “Oh! Provai e vede que o Senhor é bom” (Salmos 34.8) Não meramente “veja” que Ele é bom enquanto você lê o texto, mas “prove” o texto. Deixe ele descansar no paladar de sua alma. Absorva para sua própria natureza.

Tente ver que é verdade, e verdade para você, mesmo que você seja o menor do povo de Deus, em sua concepção, e o mais indigno dos pecadores, perto do inferno. “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” Vá para casa, e leve o texto com você, na mão da fé. Ele deve provar a você como a panela de farinha da viúva e a botija de azeite. Ele nunca falhará com você, e chegará o dia em que o Senhor o levará desta terra de famintos para comer pão em Seu reino com o seu querido Filho.

Meu coração chora em pensar que este texto não pertence a alguns de vocês, porque vocês não pertencem a Cristo. Oh, meu querido Amigo, como eu desejo que você um dia tenha as promessas da Aliança para si mesmo! Se você acreditar de todo o coração, você terá. Confie em Jesus Cristo, e as promessas serão suas. Eu tentei pregar o sacrifício pelo pecado de meu Mestre nesta manhã. Eu agora dei a vocês uma das mais doces frutas que cresce da árvore amarga, a qual O segurou. Oh, venha para a árvore da Cruz, e olhe para os Seus sofrimentos, e descanse Nele! E depois, quando você houver sentado debaixo dela com grande prazer[14], que esse texto, que é uma das frutas dessa árvore, seja doce ao seu paladar. Que o Senhor os abençoe, em nome de Jesus. Amém.

FONTE:

Traduzido de http://www.spurgeongems.org/vols16-18/chs930.pdf

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público

Sermão nº 930—Volume 16 do The Tabernacle MetropolitanPulpit,

Original em inglês: Away with Fear

Tradução:  Maria Eduarda Lyra

Revisão: Daniel Campos

Prova e diagramação: Armando Marcos Pinto

Capa: Beatriz Rustiguel

 


[1] Ef 1:3-14

[2] Êx 5:2

[3] Citação de William Shakespeare, da peça “Hamlet” (N. do T.).

[4] Referência às duas alianças: da Lei e da Graça (Cf. Gl 4:21-31; N. do T.).

[5] Rm 5:20, 21

[6] II Sm 21:15

[7] I Rs 19:4

[8] Lc 18:13

[9] Sl 16:3

[10] Sl 57:7

[11] I Ts 5:16

[12] Jó 1:21

[13] Joseph Caryl, Protestante do século XVII. Seus comentários sobre Jó são sua obra mais conhecida. (N. do T.)

[14] Ct 2:3; originalmente, em inglês, As the apple tree among the trees of the wood, so [is] my beloved among the sons. I sat down under his shadow with great delight, and his fruit [was] sweet to my taste. (N. do T.)