Hoje na História da Igreja: Em 18 de dezembro de 1853, Charles Haddon Spurgeon prega pela primeira vez em Londres, à convite da Igreja Batista de New Park Street.

Por Armando Marcos

Desde 1851, o jovem pastor Charles Haddon Spurgeon exercia o pastoreado na capela batista da vila de Waterbeach, próxima de Cambridge. Como a congregação não tinha condições de pagar muito a Spurgeon, ele continuou trabalhando como tutor durante a semana. Nesse tempo, a igreja cresceu de algumas dezenas para mais de 400 por meio dos sermões deste “menino pregador”, causando um pequeno reavivamento local. Em 1853, Spurgeon foi convidado para dar um discurso na reunião anual da Cambridge Sunday School Union. Sendo o mais jovem dentre os pregadores, Spurgeon foi constrangido por alguns que achavam que ele era novo demais para falar, mas ele pregou e impressionou todos, inclusive um senhor chamado George Gould, que falaria muito bem do “jovem pregador” para Thomas Olney, diácono da Capela batista de New Park Street de Londres, que há meses estava sem pastor e em decadência espiritual.

Em novembro de 1853, Olney mandou um convite para Spurgeon pregar em sua igreja. Ao receber a carta com a chamada, Spurgeon achou que era um engano, que deveria ser para um outro Spurgeon. Afinal, era um convite para pregar na igreja que foi no passado por grandes nomes batistas, como John Rippon, autor do hinário que Spurgeon usava, e de John Gill, um dos maiores teólogos batistas do século XVIII. “Ir para Londres é um grande passo a partir deste pequeno lugar”, ele relatou, e incrédulo, respondeu a carta pedindo uma confirmação se ela para ele mesmo. A confirmação veio e ficou acertado que ele iria para Londres em 17 de dezembro para pregar no dia seguinte. Na data combinada, Spurgeon chegou e ficou hospedado, às custas da igreja, em uma pensão na Queen Square, Bloomsbury.

 

Ilustração da Capela Batista de New Park Street

Spurgeon , o rapaz ‘do interior’ , ficou muito impressionado com os comentários dos hóspedes da pensão sobre “os grandes teólogos da metrópole e suas congregações! “. Relatos de como vários pregadores eram eloquentes e capazes o atemorizaram. Ele relatou que foi para seu quarto sábado de noite em plena “miséria solitária e não encontrava piedade”. No dia seguinte, ao andar pelas ruas: “Imaginando, orando, temendo, esperando, acreditando — eu me sentia completamente sozinho, e ainda assim não sozinho. Esperando pela ajuda divina , e interiormente abatido pelo meu senso de necessidade dela , atravessei um deserto sombrio de tijolos para encontrar o local onde minha mensagem deveria ser entregue”.

Naquela manha, Spurgeon encontrou uma igreja que para seus olhos era imponente, com capacidade para mais de 1000 pessoas, mas apenas pouco mais de 300 estavam no local, o que fazia parecer bem esvaziado. Spurgeon, mesmo com medo e temor, mas encorajado pela graça de Deus, pregou o sermão “O Pai das Luzes” em Tiago 1:17 : “Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação, ou sombra de mudança”. Todos ficaram maravilhados. Esse sermão impactou a congregação de tal forma que os que o ouviram convidaram muitos outros para ouvirem a segunda pregação da noite, entre eles uma jovem amiga da família Olney chamada Susannah Thompson, que seria a futura esposa do rapaz que ela achou excêntrico por pregar com enorme lenço de cetim azul.

Joseph Passmore

Ao voltar para a pensão, Spurgeon não tinha mais temor algum dos ‘bárbaros londrinos’, e nessa volta conheceu o diácono Joseph Passmore, que era um pequeno editor que muito em breve, junto com seu sócio começaria a publicar os sermões de C.H.Spurgeon , obra usada por Deus até os dias de hoje. Eles seriam amigos durante a vida toda. Após esse dia, Spurgeon foi convidado para pregar outras vezes em janeiro de 1854, e após alguns meses, foi convidado para ser pastor titular, sendo eleito em Abril com quase 95% dos votos da congregação. Charles Haddon Spurgeon deixou a pequena vila de Waterbeach com pesar por seu povo, mas o pastoreado em Londres o faria ser chamado de “Novo Whitefield”, multidões lotariam seus cultos até que New Park Street ficasse pequena demais , e sua pregação impactaria a Inglaterra e o mundo até o fim de seu ministério terreno em 31 de janeiro de 1892, e pela graça de Deus até nossos dias.

 


FONTE BIBLIOGRÁFICA: Autobiography of Charles H. Spurgeon compiled from his diary, letters and records by his wife and his private secretary